Pequim está passando por uma revolução gastronômica extraordinária. Nos últimos tempos, restaurantes especializados em cozinhas de vários cantos da China – e do mundo – pipocaram em toda a cidade. E os ambientes, que vão do chique e moderno às espeluncas escondidas nos antigos hutongs de Pequim, fazem parte da diversão.
A variedade é ainda é mais impressionante se consideramos que, duas décadas atrás, a cidade ainda era um deserto em termos de culinária. Nos anos 1950, Mão Tsé-tung decidiu cortar as asinhas capitalistas da China, fechando os restaurantes privados.
Em 1980, o Yuebin Fanzhuang (Cuihua Hutong, 43, 31, em frente ao portal principal do Museu Nacional de Arte da China, Dongcheng, Centro, 6524 5322, prato principal RMB 10-RMB 43) abriu suas portas em um pequeno hutong, tornando-se o primeiro restaurante getihu (privado) a ser reaberto em Pequim.
Não era nada especial, e há muito ele foi ofuscado por outras casas, mas conseguiu pôr fim a um longo hiato e oferecia comida e serviço melhores que os dos letárgicos restaurantes estatais. Ainda no início dos anos 1990, comer fora na capital significava ir a um dos cafés cantoneses ou de Sichuan, normalmente lugares sem graça e mal-iluminados, com toalhas de mesa de plástico que grudavam nos braços.
Não faz muito tempo que enormes pés de repolho eram empilhados sobre o telhados das casas chinesas e nas esquinas, um lembrete da pouca variedade que havia então. Em 1999, a inauguração do Red Capital Club em uma casa-pátio restaurada iniciou a tendência dos charmosos restaurantes de hutong. O lindamente restaurado The Source oferece um menu fixo de pratos de Sichuan; o Courtyard, uma casa antiga perto do Portão Leste da Cidade Proibida, foi transformado em um lugar iluminado de comida fusion.
Os restaurantes também começaram a ir para os parques da cidade. Convenientemente para os turistas, alguns dos melhores ficam no Parque Ritan. No entanto, um dos destaques é o Bai Family Mansion, localizado em um jardim verdejante que data do início da dinastia Qing.
A Gui Jie, ou Rua Fantasma, é enfeitada com lanternas vermelhas e possui mais de cem restaurantes ao longo de 1,5 quilômetro, indo de leste a oeste paralelamente à Rua Dongzhimennei. O bulevar noturno é um sonho gastronômico. As iguarias mais famosas encontradas por aqui são o mala xiao longxia (lagostim apimentado); pescoço de pato com especiarias, uma especialidade da cidade de Wuhan; e o hot pot (caldo) de peixe que fez a fama da província de Guizhou.
A Gui Jie ganhou o apelido de Rua Fantasma porque gui rima com a palavra chinesa que significa ‘fantasma’. Na verdade, o ideograma de Gui representa ‘vasilha para comida’, embora ‘fantasma’ capture melhor a essência do lugar, que funciona até altas horas. A última tendência em Pequim é dos restaurantes chiques com decoração e design ultra-contemporâneos.
O vanguardista People 8 é tão escuro, que você precisa de uma lanterna para chegar aos banheiros – provavelmente os mais legais da cidade. Já o Lan, um dos mais novos restaurantes de Pequim, foi projetado por Philippe Starck, que transformou o espaço de 6 mil metros quadrados em uma verdadeira ilha da fantasia.
O ano de 2006 presenciou a invasão estrangeira, com restaurantes do mundo inteiro se estabelecendo em Pequim. Além dos restaurantes americanos, europeus e do Sudeste Asiático, a cidade agora oferece comida iraniana, turca, tunisiana, israelense, cubana e grega, sempre sob o comando de nativos desses países.
Os restaurantes e pâtisseries franceses são os mais proeminentes. O Café de la Poste, um bistrô montado por um jovem chef francês, serve filés excelentes, enquanto o W dine & wine, aberto pelo belga Geoffrey Weckx – que já foi o chef em vários hotéis cinco estrelas da China –, oferece uma variedade de pratos europeus, a preços moderados.
Entre tantas opções, o antigo ritual das casas de chá ou um jantar num antigo laozihao, ainda devem ser a melhor experiência da viagem. É difícil imaginar onde a próxima tendência nos levará, mas uma coisa é certa: jantar fora em Pequim nunca mais será chato.
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