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Contexto

Os tempos de crescimento continuam para a capital catalã.

Em 1992, para os Jogos Olímpicos, Barcelona se engajou em uma das maiores transformações urbanas dos tempos modernos, que a virou para o mar. Os melhores arquitetos e urbanistas de todo o mundo foram convidados a contribuir, e a maioria deles estava ansiosa para preencher os espaços abertos pela demolição dos blocos de concreto construídos na época de Franco. Esses arquitetos e designers não estavam simplesmente fazendo prédios e parques; eles estavam criando um conceito de cidade para o novo mundo.

No entanto, a idéia deu certo em grande parte graças ao povo de Barcelona, e menos aos consultores internacionais. Para os barceloneses, a cidade já era especial como o lugar onde o coração catalão bate mais forte, um nacionalismo que já tinha tomado forma, um século antes, nos legados de arquitetos modernistas como Lluís Domènech i Montaner, Josep Puig i Cadafalch e, obviamente, Antoni Gaudí. Com o conceito criado, parecia que o mundo inteiro havia se rendido a ele: em diversas pesquisas, Barcelona foi eleita a cidade mais adorada pelos turistas.

E eles vieram em massa, até que a Prefeitura da cidade começou a se preocupar com a desvalorização da marca Barcelona. Mesmo esta cidade tão bacana não poderia agüentar tantos bêbados e tantas festas. Como um número crescente de moradores sentisse que a cidade lhe estava sendo surrupiada, a Prefeitura começou a agir: caçou alvarás de casas noturnas, impôs regras para o consumo de bebidas alcoólicas e até instituiu controles de qualidade em La Rambla.

É fato que o sucesso duradouro de Barcelona no circuito turístico trouxe consigo uma enxurrada de influências erosivas. Os turistas gastam na cidade mais de 9 milhões de euros por dia, e cada vez mais estabelecimentos (e às vezes, como no caso de Born, bairros inteiros) se voltam exclusivamente para eles.

Onde antes era comum ver barcelonenses passeando aos domingos, como ao longo de La Rambla, hordas de turistas de todo o mundo os substituíram. É o preço da fama, do sucesso.

Rumo ao futuro

Impulsionada pelo turismo e pela boa reputação internacional da cidade, sua economia continua a crescer. De fato, apesar da perda da maioria de suas indústrias tradicionais e de sua fama de ser uma cidade festeira, a pesquisa European Cities Monitor classifica Barcelona como uma das cinco cidades européias mais atraentes para os negócios.Uma das razões para essa aparente contradição reside nos esforços de um órgão público-privado, discreto mas muito efetivo, chamado Consorci de la Zona Franca.

Originalmente criado para administrar a Zona Franca, uma região industrial de 600 hectares isenta de impostos, que se estende ao longo do Delta de Llobregat, entre o porto e o aeroporto, o Consorci ultrapassou sua função de órgão arrecadador para as companhias instaladas na Zona Franca e é hoje uma das principais forças econômicas da cidade. Para dar uma idéia da força do Consorci, a instituição conta com mais de 700 milhões de euros em investimentos em diferentes projetos em Barcelona e outros locais da Catalunha, para o período 2006-09.

A maior parte do dinheiro tem sido gasta na transformação de Barcelona no que o presidente do Consorci, Manuel Royes, gosta de chamar de ‘cidade do conhecimento’. A idéia é simples. Usando seu estatuto público, o Consorci compra ou desapropria imóveis na cidade e depois investe na construção de novos prédios, instalações de ponta para inserir Barcelona na ‘economia do conhecimento’, a florescente economia mundial baseada nos avanços em áreas de tecnologia e informação

História e política Locais

Os romanos fundaram Barcelona por volta de 15 a.C. no Mons Taber, uma pequena colina entre dois córregos de onde se tinha uma boa vista do Mediterrâneo, hoje encimada pela catedral.

O povo de Barcino converteu-se ao Cristianismo em 312, em uma época em que o Império Romano deparava com a ameaça crescente de invasão de suas fronteiras. Em resposta à ameaça bárbara, no século 4, as defesas da cidades foram substituídas por sólidos muros de pedra, dos quais muitas partes podem ser vistas até hoje. Foram essas proteções que asseguraram a continuidade de Barcelona, tornando-a uma fortaleza desejada pelos futuros líderes guerreiros.

Contudo, defesas como essas não conseguiram impedir a desintegração do Império. Em 415, Barcelona, como ficou conhecida, se tornou brevemente a capital do reino dos visigodos, sob a liderança de Ataülf. Eles logo se moveram em direção ao sul, estendendo seu controle sobre toda a Península Ibérica. Pelos 400 anos seguintes, a cidade foi negligenciada.

Os muçulmanos penetraram na península depois de 711, esmagando a resistência visigoda; eles não precisaram se esforçar muito para colonizar a Catalunha, mas grande parte da população cristã se retirou para os Pirineus, o primeiro coração catalão. Então, no final do século 8, os francos vieram das montanhas e se dirigiram ao sul, lutando contra os mouros. Em 801, o filho de Charlemagne, Luis, o Piedoso, tomou Barcelona e fez dela o bastião da Marca Hispanica, a parte sul do império de seu pai.

Eles imprimiram à Catalunha uma influência dos Pirineus totalmente diferente daquela de outros Estados cristãos na Espanha; esta é a razão pela qual a língua mais próxima ao catalão é o provençal, e não o castelhano.

Crescimento confiante

No primeiro século do milênio, a Catalunha se consolidou como uma entidade política e entrou em um período de riqueza cultural. Essa foi a grande era da arte românica catalã, com a construção de magníficos monastérios e as igrejas do norte da Catalunha, como as de Sant Pere de Rodes, perto de Figueres, e a pintura dos gloriosos murais hoje preservados no Museu Nacional de Montjuïc.

Construção do império

Jaume I, o Conquistador (1213- 76) se uniu à campanha contra os muçulmanos no sul, tomando Maiorca em 1229, Ibiza em 1235 e, na costa, Valência em 1238 (esta última se tornou um reino separado, a terceira parte da Coroa de Aragão). Barcelona virou o centro de um império que se estendeu pelo Mediterrâneo. A cidade cresceu tremendamente. Em meados do século 13, Jaume I ordenou a construção de uma segunda muralha ao longo da linha de La Rambla, envolvendo a área até o moderno Parc de la Ciutadella e trazendo, deste modo, La Ribera e outras vilanoves para o interior da cidade.

A cidade de um no novo século

A Exposição de 1888 deixou Barcelona com grandes dívidas, uma nova aparência e várias razões para se acreditar como um paradigma de progresso. A Renaixença catalã avançava, adquirindo contornos mais políticos. A opinião da classe média gradualmente se tornou mais simpática ao nacionalismo catalão.

Um momento realmente decisivo foi 1898, quando foi desnudada a fraqueza do Estado espanhol, sob a prosperidade superficial dos primeiros anos da restauração Bourbon. A Espanha entrou em uma curta guerra com os Estados Unidos, perdendo o que sobrava de seu império: Cuba, Filipinas e Porto Rico. Os industriais ficaram horrorizados ao perder seu lucrativo mercado cubano e desesperados com a inabilidade do Estado de se reformar.

Muitos se alinharam a um movimento conservador nacionalista: a Lliga Regionalista, fundada em 1901 e que prometia um renascimento nacionalista, além de um governo moderno e eficiente. Ao mesmo tempo, Barcelona continuava a crescer, fomentando o otimismo catalão.As letras catalãs prosperavam. O Institut d’Estudis Catalans foi fundado em 1906, e Pompeu Fabra criou o primeiro dicionário do idioma. Sobretudo, Barcelona tinha uma vibrante comunidade artística, centrada no Modernisme e formada por grandes arquitetos e pintores estabelecidos como Rusiñol e Casas, mas também pelos vários boêmios sem dinheiro que gravitavam em torno deles, entre os quais o jovem Picasso.

Os boêmios se lançaram na vida noturna cada vez mais selvagem do Raval, onde cabarés, bares e prostíbulos se multiplicaram no final do século 19. Localizados em volta dos cabarés, viviam também os membros mais pobres das classes trabalhadoras, cujas condições de vida continuavam a piorar; Barcelona tinha alguns dos piores casos de superpopulação e as mais altas taxas de mortalidade da Europa.

Rebeliões entre as classes trabalhadoras precedem a chegada do anarquismo; no século 19, a Igreja Católica era alvo freqüente de protestos contra seu conluio com as autoridades e o controle que exercia sobre o cotidiano das classes mais pobres.

Atitudes rebeldes, junto ao crescente sentimento republicano e um ódio feroz à Igreja Católica, uniram as classes baixas e as levaram a erguer as barricadas. A Setmana Tràgica de 1909 começou como um protesto contra o recrutamento de tropas para a guerra colonial no Marrocos, mas degenerou em um distúrbio generalizado, com a destruição de igrejas pelas massas enfurecidas.Esses fatos golpearam o otimismo dos nacionalistas da Lliga. Porém, em 1914, eles conseguiram de Madri a Mancomunitat, ou união administrativa, das quatro províncias catalãs, a primeira junta de governo na Catalunha em 200 anos.

Os anos de Franco

Na Catalunha, o regime de Franco teve mãos de ferro e foi especialmente vingativo. Milhares de republicanos e esquerdistas catalães foram executados; exílio e deportação foram a sorte de outros milhares. Publicações, ensino e outras expressões culturais públicas em catalão, incluindo conversas na rua, foram proibidos, e todos os monumentos nacionalistas na cidade foram destruídos.

Alguns movimentos políticos clandestinos conseguiram se organizar. Ainda assim, como um sobrevivente fascista, o regime de Franco foi sujeito a um embargo da ONU após a Segunda Guerra Mundial. Anos de isolamento internacional e busca por auto-suficiência terminaram em 1953, quando os EUA e o Vaticano consideraram que esse Estado anti-comunista deveria ser, ao menos parcialmente, readmitido no seio do Ocidente.

Em 1959, o Plan de Estabilización, planejado por tecnocratas católicos da Opus Dei, trouxe a Espanha definitivamente para o interior da economia ocidental, deixando suas portas abertas ao turismo e aos investimentos estrangeiros. Depois de anos de austeridade, os lucros do turismo trouxeram o crescimento econômico europeu dos anos 1960 à Espanha e, junto dele, mudanças em um ritmo extraordinariamente acelerado. Ainda assim, o regime de Franco nunca hesitou em mostrar sua força. Greves e manifestações eram reprimidas com selvageria, e apenas meses antes da morte do ditador, a última pessoa a ser executada na Espanha com o método tradicional do garrote, um anarquista catalão chamado Puig Antich, morreu em Barcelona. Em 1973, porém, o seguidor mais próximo de Franco, Admiral Carrero Blanco, foi morto por uma bomba plantada pelo grupo terrorista basco ETA, o que não deixou ninguém para guardar os valores centrais do regime. Soprava um vento de mudança.

Do Generalíssimo à Genereralitat

Quando Franco morreu, em 20 de novembro de 1975, o povo de Barcelona comemorou; à noite, não sobrara uma única garrafa de cava na cidade. Mas ninguém sabia o que aconteceria depois. A monarquia Bourbon foi restaurada sob o rei Juan Carlos, porém suas intenções não eram claras. Em 1976, ele nomeou um burocrata franquista pouco conhecido, Adolfo Suárez, como primeiro-ministro, com a tarefa de conduzir o país à democracia.

Os primeiros anos da ‘transição’ espanhola foram difíceis. Manifestações públicas continuavam a ser reprimidas pela polícia com considerável brutalidade, e grupos de extrema-direita distribuíam ameaças. Porém, os partidos políticos foram legalizados, e junho de 1977 viu as primeiras eleições democráticas desde 1936. Elas foram ganhas, em boa parte da Espanha, pelo partido recém-criado pelo próprio Suárez, a Union de Centro Democratico (UCD), e na Catalunha, por uma mistura de socialistas, comunistas e nacionalistas.

Mais uma vez, não estava claro o quanto Suárez estava disposto a lidar com as grandes demandas da Catalunha, mas pouco depois das eleições, ele surpreendeu a todos visitando o presidente da Generalitat no exílio, o veterano pré-Guerra Civil Josep Tarradellas. Seu gabinete foi a única instituição do antigo regime a ser reconhecida, talvez porque Suárez astutamente identificasse no velho homem um companheiro conservador. Tarradellas foi convidado a retornar como presidente provisório da restaurada Generalitat, e foi recebido pelas massas em outubro de 1977.

No ano seguinte, ocorreram em Barcelona as primeiras eleições livres desde 1936. Elas foram ganhas pelo Partido Socialista, e Narcís Serra se tornou prefeito. O Partido Socialista mantém controle do conselho desde então.

Escrito por Time Out Viagem editors
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