Ideais republicanos, poder imperial e intriga papal são termos comuns no passado de Roma. Os gêmeos Rômulo e Remo foram frutos do estupro de Réia Silvia, uma princesa italiana, por Marte, deus da guerra. Abandonados ainda meninos e levados para a área pantanosa aos pés do Palatino, os gêmeos foram amamentados por uma loba até serem encontrados por um pastor.
Rômulo tornou-se líder de sua tribo, entrou em disputa com o irmão e o matou. E, em 21 de abril de 753 a.C., fundou a cidade de Roma. Devido à falta de mulheres em sua comunidade, seqüestrou uma mulher da tribo dos sabinos e começou a erguer um império que dominaria todo o mundo conhecido.
A história sobre a fundação de Roma pode parecer fantástica, mas é corriqueira. Nesta metrópole, a linha entre mito e realidade sempre foi tênue. Ainda hoje, todo 21 de abril, milhares de romanos tomam as ruas da cidade enquanto fogos de artifício comemoram o aniversário oficial da cidade.
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Roma Hoje
Roma tem seus defeitos, mas o amor dos romanos por sua cidade permanece eterno Pergunte a um taxista sobre o estado da cidade hoje, e provavelmente sua viagem – mesmo que seja de um lado a outro de Roma – não será suficiente para ouvir a ladainha de aflições: o aumento de carros particulares a cada ano, chacoalhando sobre o calçamento da cidade; os níveis estratosféricos de poluição; a interrupção do trânsito quando o papa ou o presidente, ou algum VIP estrangeiro, percorre as ruas em alta velocidade e com muita segurança ou quando manifestantes marcham pelo centro da cidade; o caos, e às vezes violência, que cerca os jogos de futebol importantes; as greves dos transportes públicos que deixam a cidade em pane; os traiçoeiros buracos; as intermináveis pavimentações; as excursões de ônibus que despejam ainda mais pessoas nas estreitas ruas medievais.
Mas pergunte se trocaria Roma para viver em outro lugar, e ele vai olhá-lo como se você fosse louco: em qual outro lugar uma pessoa sã viveria? Alguns dias a cidade parece presa numa loucura própria. Dos adoráveis tons pastéis de amarelo, cinza, pêssego e creme nos monumentos históricos aos principais novos museus e projetos de edifícios contemporâneos, Roma limpou a fuligem e sacudiu a poeira após décadas de negligência.
A reviravolta começou em 1993, quando Francesco Rutelli venceu a Prefeitura com apoio do Partido Verde e recebeu uma grande ajuda do governo central, da mesma tendência de centro-esquerda. Ele deu excelente uso à verba para o Jubileu: deu início as extensas escavações nos sítios arqueológicos da via dei Fori Imperiali; fundos foram alocados para a restauração de igrejas e monumentos; o transporte inadequado da cidade também foi melhorado.
O Ministério da Cultura também ajudou, reabrindo o Domus Aurea, a Galleria Borghese e as Terme di Diocleziano. Mas a administração Rutelli foi além de restaurar o velho: rompendo com um passado que via a arquitetura contemporânea na Cidade Eterna como sacrílega, iniciou trabalhos importantes que incluíram o MAXXI de Zaha Hadid, um centro de convenções no EUR pelo arquiteto italiano Massimiliano Fuksas, o magnífico Auditorium de Renzo Piano, com três salas de concerto, e o pavilhão para o Ara Paris assinado pelo norte-mericano Richard Meier.
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Arquitetura
Imperadores e papas expressaram seu poder na forma de construções – um legado ainda visível na Cidade Eterna Mesmo se existisse no passado, a expressão ‘menos é mais’ não faria sentido para um romano. A maior parte da arquitetura romana é grandiosa, chama a atenção e, sempre que possível, expressa uma posição política.
Do principal Fórum antigo, com suas estátuas e templos de mármore, aos mosaicos das igrejas do século 12, do esplendor de São Pedro ao bairro EUR, construído do zero por Mussolini, o objetivo sempre foi maravilhar. O que fez Roma tão interessante, apesar disso – e que preenche as lacunas entre esses imponentes prédios, templos e igrejas – são as casas modestas e covas comuns, adicionadas através de eras: uma miscelânea de velho e novo, rico e pobre, que ainda é muito visível hoje.
E seja papa ou pobre, todos se apropriaram do passado, literalmente: colunas de templos pagãos adornam a maioria das igrejas; portas e estátuas de bronze antigas foram derretidas para uso em São Pedro e outras igrejas; e sarcófagos de patrícios romanos se tornaram bebedouros para gado e cavalos.
A reciclagem foi inventada aqui milênios atrás. Os tempos mudaram, mas as intenções continuam quase as mesmas. Embora não tenham o status de um imperador ou pontífice, os líderes da cidade contemporânea ainda gostam de deixar sua marca, comissionando novos trabalhos grandiosos assim como projetos