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Contexto

De cidadela a capital imperial em sete breves séculos..

Cerca de cem anos depois de Madri ter se tornado capital do Império Espanhol, tentou-se construir um passado antigo para a cidade a fim de atender a um capricho de Felipe II: escritores inventaram a história de que descendiam de uma cidade romana, Mantua Carpetana. Apesar de ter havido cidades e casas romanas próximas a Alcalá de Henares (Complutum), Toledo (Toletum) e no vale do Manzanares, não há qualquer evidência de que tenha existido um local chamado Mantua, ou de que assentamentos romanos tenham originado a atual Madri. A lenda de Mantua Carpetana, porém, serviu para desviar a atenção da insignificância da Madri antes da transferência da Corte, em 1561, e, acima de tudo, da ‘vergonha’ de ter sido fundada pelos mouros – mais especificamente, por volta de 860, durante o reinado de Mohammed I, o quinto emir de Córdoba.


Madri hoje

Maior, mais luminosa e impetuosa que nunca

Os ataques terroristas de 11 de março de 2004 em quatro trens lotados de Madri mudaram muitas coisas, tanto na cidade e quanto na Espanha como um todo. Três dias depois, o governo de direita de José María Aznar, do PP (Partido Popular), que esperava uma vitória eleitoral relativamente fácil, foi varrido do poder por eleitores irritados com a forma enganosa e inepta com que reagiu ao ataque. O PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) foi repentinamente alçado ao poder e, assim que a poeira baixou, começou a extirpar diligentemente todos os aspectos do antigo regime que podia alcançar. As cidades começaram, então, a se recuperar.

Nos três primeiros anos de mandato, o governo de José Luis Rodríguez Zapatero modificou a atitude oficial diante da imigração, legalizou o casamento gay, deu passos para restringir a influência da Igreja na educação e redesenhou as relações entre o poder central e as comunidades autônomas, especialmente na Catalunha. Ele ajustou as leis fiscais, iniciou melhorias na rede de segurança social do Estado de bem-estar social espanhol, e, apesar dos inesperados ataques a bomba ao aeroporto de Barajas, em dezembro de 2006, tem dado passos importantes em direção a um processo de paz com os separatistas bascos. Como política externa, o governo tenta reinserir a Espanha no centro da Europa e se tornar um protagonista no processo de paz no Oriente Médio. O melancólico primeiro-ministro parece ser um homem decidido, que quer ser lembrado como o líder à frente de uma administração reformista. Enquanto isso, o PP, como fazem os partidos derrotados, refugiou-se em seus redutos eleitorais, e seus políticos endureceram a postura de confronto. Alguns analistas mais cautelosos observam que, historicamente, a Espanha sempre teve dificuldades para lidar com polarizações, mas eles não têm recebido muita atenção.

Os dias exaltados que se seguiram às eleições de 2004 ficaram para trás, cedendo ao trabalho pesado da política cotidiana, na qual Madri se encontra em uma posição privilegiada, mas enfraquecida. É a capital de um país que parece estar se redefinindo como um Estado federalista. Embora mantenha seu status, Madri teme que o novo estatuto catalão favoreça sua rival, Barcelona. O crescimento econômico espanhol logo após a eleição de Zapatero foi guiado pela capital, e o renascimento da histórica tensão entre centro e periferia revitalizou a atitude da cidade em relação a si própria e ao resto do país. O boom imobiliário iniciado nos anos 1990 vai e volta, apesar de as altas nas taxas de juros e os escândalos financeiros terem reduzido sua marcha. Na virada do milênio, os governos municipal e regional de Madri, ambos controlados pelo PP, embarcaram na construção de infra-estrutura, em um programa de revitalização extenso e extremamente dispendioso, relacionado originalmente à candidatura da cidade para sediar as Olimpíadas de 2012. Isso levou grande parte da capital ao que parece ser um permanente estado de reconstrução (ver Prefeito trabalhando). Sejam quais forem os prós e contras desses projetos, eles ajudaram a reduzir o desemprego a índices históricos e geraram uma sensação de otimismo (ainda que associada a resmungos exasperados).

Os resultados das eleições locais de maio de 2007 traçaram o acontecerá com Madri nos próximos anos. A reeleição do Partido Popular significou que o eleitorado mordeu a isca e entendeu que as eventuais vantagens prometidas pelo sonho de reconstrução urbana de Alberto Ruiz Gallardón são ideais para o estado desesperador da cidade. A idéia de um pedágio urbano para reduzir o trânsito, como foi feito em Londres, fazia parte dos planos, embora duramente recusada pelos madrilenos – um imposto sobre o direito de ficar parado no trânsito enquanto poluentes são jogados no já cinzento ar da cidade foi visto por muitos como uma ameaça fatal às liberdades individuais. Por outro lado, o antes desconhecido Miguel Sebastián, que teve alguma chance de ser o primeiro prefeito socialista de Madri em duas décadas, foi derrotado principalmente por sua falta de experiência administrativa – ele teria que lidar com o déficit causado pela reconstrução e com a dívida pública crescente (então na casa dos €6 bilhões) acumulada pela gestão do PP, tendo que decidir quais de seus projetos seriam viáveis ou não. De qualquer maneira, e independentemente de quaisquer novas legislações, as questões principais na eleição foram a política habitacional do poder público para atender os jovens e os imigrantes e a canalização para a comunidade do dinheiro utilizado em obras civis. E, se a bolha da especulação imobiliária estourar, como é bem provável, a crise será feia.


Arquitetura

Uma cidade de glórias imperiais e inventividade moderna

O passado de Madri, turbulento e grandioso, é pouco visível em sua arquitetura. As muralhas da cidade ficaram de pé até a década de 1860 – por mais tempo que na maioria das cidades européias –, o que forçou Madri a construir sobre si mesma, substituindo os prédios existentes com tal rapidez que, no fim do século 19, era uma cidade surpreendentemente moderna.

Sua história, contudo, é refletida em uma mistura excêntrica e única de estilos arquitetônicos. Em maior ou menor grau, é possível encontrar traços da maioria dos períodos históricos de Madri, bem como de suas influências – mourisca, flamenga, italiana, francesa e americana. Não é possível definir uma identidade arquitetônica realmente madrilena, mas a cidade reivindica a criação de um estilo incomum – o neo-mudéjar . Madri tem também monumentos singulares.

Escrito por Time Out Viagem editors
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