Durante dois dias do verão, uma pequena região predominantemente residencial do oeste de Londres fica enfeitada com as cores, cheiros e, acima de tudo, sons do Caribe. A música é o coração do Carnaval de Notting Hill, com os tradicionais calypso e soca competindo com os enromes aparelhos de som tocando ragge, hip hop, dub e outros tipos de música moderna afro-caribenha.
Mas o desfile, com espetaculares carros alegóricos e dançarinos, é o seu elemento mais tradicional. Centenas de barracas vendem de tudo, de frango e rum punch, a álbuns de reggae e bandeiras jamaicanas. Depois do Rio, esta é a maior festa de rua do mundo, atraindo cerca de dois milhões de pessoas por ano.
O Carnaval começou em 1959, como resposta aos conflitos raciais do ano anterior em Notting Hill. O evento foi concebido para celebrar a grande presença caribenha em Londres e para apaziguar as relações raciais. Inicialmente bem menor, era feito em lugares fechados até 1966.
No entanto, diversas vezes na década de 1970, principalmente em 1976, o desfile deu origem a tumultos, que deixaram centenas de policiais feridos e várias pessoas mortas. Ainda causa alguns problemas, mas nos últimos cinco anos a violência tem diminuido e hoje é mais fácil aproveitar o evento sem qualquer complicação.
No entanto, ainda há preocupações em controlar uma festa tão grande em ruas tão estreitas, numa área tão limitada. Todos os anos, figurinhas famosas e a imprensa conservadora pedem pelo fim do Carnaval ou para que seja realocado. Em 2004, o prefeito Ken Livingstone criou o Carnival Review Group, com o objetivo de ‘formular diretrizes para garantir o futuro do Carnaval’.
O grupo recomendou que o Hyde Park fosse usado para acomodar os eventos maiores e em 2007 o primeiro espetáculo de palco aconteceu lá. Isso incluiu o National Champions of Steel Competition, um concurso de bateria que é tradicionalmente a maior atração depois do desfile.
A atitude foi altamente criticada pelos frequentadores, que alegam ser uma tentativa de tirar o evento das mãos da comunidade negra e conseguir publicidade barata e favorável à prefeitura. Os organizadores do evento chamaram o novo palco de ‘comício do prefeito... [que] nunca vai substituir o evento na comunidade, já que cresceu como representação da essência da presença caribenha no Reino Unido.’
O prefeito respondeu dizendo que os eventos podem coexistir tranqüilamente. Ele pode até estar certo – mas a julgar pelo público insignificante, o novo palco ainda vai demorar para se tornar uma alternativa séria para a original vizinhança da festa, bagunçada e barulhenta.