Os portugueses amam seu café. A maioria dos lisboetas mal sai da cama e já liga a cafeteira, normalmente um expresso com uma ou duas colheres de açúcar. Casas comerciais prontas para alimentar esse vício estão espalhadas por todos os cantos, desde pastelarias (que não vendem pastéis e sim todo tipo de pães e bolos, como as padarias brasileiras) até esplanadas (cafeterias ao ar livre) estão nas maiores avenidas. Mas a popularidade do café não é fenômeno recente: Portugal, como ex-governante colonial do Brasil, o maior produtor do mundo, há muito tem tido acesso ao melhor café.
Em Lisboa, o crescimento do império e a ascensão da burguesia acabaram espelhados no desenvolvimento do distrito de Chiado. A reputação da área como um centro de agitação artística e política tem como base dois estabelecimentos: o Café A Brasileira, que ainda existe, e o Café Marrare. “Lisboa era o Chiado e o Chiado era o Café Marrare”, se entusiasma um historiador. O Café A Brasileira atingiu seu auge nos anos 1920 e 1930, quando nomes da literatura como Fernando Pessoa e José Pacheco podiam ser encontrados em uma mesa, políticos na outra e atores do Teatro da Trindade em uma terceira.
Esses arredores foram condenados bem antes do incêndio em Chiado, em 1988. Os maiores cafés de Rossio tinham o apelo popular e um fluxo de clientes da nova estação de trens. Nos anos 1940, com o resto da Europa em guerra, os cafés de Rossio floresceram. No entanto, apenas 20 anos depois, a maioria havia fechado. Mas como nossas listagens mostram, há sinais de um renascimento da cultura do café em Chiado – e Lisboa como um todo tem hoje mais locais para saborear um cafezinho do que nunca.
Fica o alerta, no entanto: se o café for em uma esplanada, os preços podem ser mais que o dobro se você estiver do lado de fora. Sentar no balcão é sempre mais barato. Se tiver dúvidas sobre onde pagar, saiba que lá as coisas funcionam com pagamento antecipado: você vai ao caixa primeiro, paga e leva o recibo para o balcão. Os grãos de café são classificados em quatro níveis de qualidade: ouro (o mais alto), platina, diamante e bar (o mais baixo). O melhor café será o ouro fresco e vale a pena perguntar qual será servido. Você vai sentir a diferença. O doce português mais conhecido é o pastel de Belém, que alcança seu auge na Antiga Confeitaria de Belém. Mas há muitos outros, incluindo os bolos de arroz, os sonhos e as broas de mel.
Royale Café
Largo Rafael Bordalo Pinheiro 29 R/C E (21 346 9125/www.royalecafe.com). Metrô Baixa-Chiado. Aberto 2ª a sáb., 10h-00h; dom., 10h-20h. Cc V.
Uma novidade de classe em uma praça silenciosa. Tudo com exceção do pão de centeio é feito no local. Os ingredientes são orgânicos ou especialidades regionais, como o chouriço de cebola e o queijo da serra. Os chás vêm de plantas, não de saquinhos. E há antiqüadas bebidas alcoólicas como o quinado, um vinho fortificado com quinina; e o licor de pinho, que é misturado com laranja, menta e canela. O cardápio da estação (sopa de pinhão no outono, por exemplo) traz combinações inesperadas, como salada de tomates secos com chocolate. O mais novo St Germain Longe Café, do lado oposto (No.18, 21 346 5212), fica aberto até tarde às sextas e sábados, servindo coquetéis e lanches.
Antiga Confeitaria de Belém
Rua de Belém 84-92 (21 363 7423). Trem Cais do Sodré-Belém/bonde 15. Aberto diariamente, 8h-23h. Cc MC, V.
É um verdadeiro crime viajar a Portugal sem passar por esta confeitaria para provar os famosos pastéis de Belém – doces quentes e cremosos, feitos a partir de uma receita secreta. Apenas três padeiros sabem a receita original e até grandes nomes como Jamie Oliver falharam ao tentar reproduzir seu gosto e textura exclusivos. Em um dia comum, uma média de 10 mil pastéis são vendidos; nos finais de semana, o número sobe para mais de 20 mil. Clientes com tempo de sobra aguardam uma das mesas de apenas dois lugares ser liberada para apreciar melhor o doce. Outros levam meia dúzia em embalagens especiais. Os azulejos das paredes mostram Belém no início do século 17.
Cerca Moura
Largo das Portas do Sol 4 (21 887 4859). Bonde 28. Aberto diariamente, 10h-2h. Cc AmEx, DC, MC, V.
No verão, a área externa fica cheia de turistas deslumbrados com a vista de Alfama. Apesar das multidões, é ideal para um lanche leve, uma vez que o quiosque serve torradas, baguetes e saborosos lanchinhos até tarde da noite (quando o clima permite). Em dias mais frios, prefira o bar estilo caverna, construído nas paredes mouras, de onde o local tira seu nome.
Pois, Café
Rua São João da Praça 93, Sé (21 886 2497). Bonde 12, 28/bus 37. Aberto 3ª a dom., 11h-20h. Não aceita cartão.
Este café austríaco é um ótimo lugar para ficar à toa, lendo os jornais e revistas oferecidos. A decoração rústica (ou a falta dela), os móveis que não combinam e os jogos e brinquedos espalhados dão o tom informal. Sanduíches, saladas, bolos deliciosos e uma aromática limonada austríaca são servidos. Há brunch também.
Esplanada da Igreja da Graça
Largo da Graça, Graça (sem telefone). Bonde 28. Aberto Inverno diariamente, 11h30-2h. Verão diariamente, 11h30-3h. Não aceita cartão.
É mais utilizado do que a Cerca Moura como ponto de encontro e de referência. Lota de gente nas tardes ensolaradas, todos sendo atraídos por uma das vistas mais belas de Lisboa. Seus sanduíches tostados e sua limonada fresca são excelentes, mas a qualidade do serviço varia, assim como a música. Um cafezinho custa €1.
As Vicentinas
Rua do São Bento 700 (21 388 7040). Metrô Rato. Aberto 3ª a sáb., 15h30-19h. Não aceita cartão.
Esta casa de chás junto a uma loja de quinquilharias religiosas tem funcionado por três décadas. Sair da barulhenta Rato para um espaço clean e calmo é como entrar em uma nova era. As pequenas e elegantes vincentinhas – mulheres dedicadas a promover o cristianismo e confortar os enfermos – falam e se movem em seu próprio ritmo. Não há cardápio, mas os bolos caseiros são apresentados em toda sua glória.