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Passeios

Entre o rio e o mar.

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Atualmente, a maioria das pessoas chega a Lisboa de avião, e as rotas aéreas costumam sobrevoar o centro da cidade – do lado direito do avião, vê-se a grande curva do Rio Tejo e sua imensidão, em meio ao labirinto de ruas da área central. Mas, tradicionalmente, os visitantes chegam pela água, em um cruzeiro ou em uma das balsas que viajam pelo Tejo do sul para os terminais Cais do Sodré ou Praça do Comércio.

A maior parte dos trens que chegam do Algarve agora cruzam o rio passando por baixo da Ponte 25 de Abril – comparável em tamanho e design à Ponte Golden Gate de San Francisco. Na ponta sul da 25 de Abril, ergue-se a estátua do Cristo Rei. Se você vier de carro do sul ou do leste, atravessará esta ponte ou a Ponte Vasco da Gama, mais nova e que fica mais a leste.

Independentemente do caminho, há outras entradas magníficas para esta grande cidade européia: cruzando o vasto estuário do Tejo encontra-se o ‘porto pacífico’ – ‘Alis Ubbo’ em fenício, provavelmente a origem do nome de Lisboa. A foz do maior rio da Península Ibérica forma um dos maiores portos naturais do mundo.

Datado do século 18, o coração da cidade – chamado de Baixa – é composto por uma grande praça, a Praça do Comércio, que se abre para o rio. Dali, a cidade atinge as alturas, com suas supostas sete colinas. Da confusão de tetos de terracota, emerge no horizonte um forte melancólico, o Castelo de São Jorge, cercado de igrejas de cúpulas brancas a leste e a oeste – abaixo dele fica o Panteão Nacional/Igreja de Santa Engrácia e, a oeste, a Basílica da Estrela.

Se a Praça do Comércio é o tapete de boas-vindas da cidade – e continua sendo para milhares de trabalhadores que atravessam a margem sul do Tejo diariamente –, a porta de entrada é o Arco Triunfal no lado norte da praça, que leva à Rua Augusta, a principal via da Baixa. E não se esqueça dos miradouros, pontos de observação espalhados por Lisboa que trazem novas paisagens para o olhar.


Baixa

A Baixa ressurgida das ruínas

Um passeio pela Baixa, o centro velho de Lisboa, evoca um período anterior aos shoppings centers. Empórios antigos, há muito extintos em outras cidades, sobrevivem aqui devido às leis de locação e arrendamento. Com isso, aqui você pode passear pelas ruas onde o comércio é praticado há séculos: joalherias dominam a Rua do Ouro (em alguns mapas, ela ainda aparece como Rua Áurea, seu antigo nome), a Rua dos Sapateiros ainda abriga artesãos que fabricam calçados e a Rua dos Fanqueiros reúne, desde sempre, um número considerável de lojas de tecidos.

Ou pelo menos desde o século 18. Antes disso, o coração da Lisboa medieval era um labirinto de ruas estreitas. Naquela época, como agora, havia duas divisões: o Terreiro do Paço no porto, mais tarde reconstruído como Praça do Comércio, ainda é conhecido pelo seu antigo nome; e o Rossio (hoje oficialmente chamado de Praça Dom Pedro IV) na extremidade superior do centro, onde as áreas mais baixas se dividem em dois vales. O centro do comércio era a Rua Nova, que cruzava a cidade de leste a oeste através da parte mais baixa da moderna malha urbana. A maior área judaica de Lisboa, a Judiaria Grande, ocupava grande parte da Baixa e se concentrava em volta da sinagoga, situada entre as extremidades leste da Rua da Conceição e da Rua de São Nicolau.

O terremoto de 1755 destruiu tudo isso. Encarregado da tarefa de reconstruir a região, o Marquês de Pombal baseou seu projeto nos redutos militares, com cada rua possuindo uma função específica. As travessas mais comuns continuam como ele planejara, embora só tenham sido concluídas no século seguinte – o Arco Triunfal, que coroa a Rua Augusta, foi finalizado em 1873. No topo do arco, a estátua Glória segura uma coroa acima das cabeças que representam Gênio e Valor. Abaixo dela, estão Viriato, Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama e o Marquês de Pombal. O Tejo é o deus-rio da esquerda, e o rio Douro, o da direita.

A região não manteve nada da Lisboa medieval, mas foi ganhando uma aura histórica ao longo de 250 anos. Na atual Praça do Comércio, Pombal projetou uma praça majestosa que fosse única na Europa, e os arquitetos Carlos Mardel e Eugênio dos Santos procuraram realizar seu desejo. Ela foi projetada com um lado aberto para o rio e os outros três, voltados para ministérios do governo; no centro, de autoria de Joaquim Machado de Castro, está a estátua eqüestre de 14 metros de altura de Dom José I, o monarca na época do terremoto. Depois de muito tempo condenado a funcionar como estacionamento, o centro da praça voltou a ser um espaço público e tem até uma galeria de esculturas ao ar livre. O tráfego é mais intenso nas margens do rio, e multidões dos subúrbios do sul chegam e partem em ônibus e trens. O Café Martinho da Arcada, em uma das extremidades da praça, existe desde 1782. Nos anos 1920 e 1930, um de seus clientes mais assíduos era o poeta Fernando Pessoa (ver Caminhada). No canto noroeste, encontram-se um posto de turismo e um bom restaurante, o Terreiro do Paço. Ao lado dele fica a Sala Ogival (21 342 0690, aberto 3ª a sáb., 11h-19h), administrada pela ViniPortugal, a associação nacional de produtores de vinhos, onde você pode degustar vinhos de graça. O local ao lado é o Lisbon Welcome Center, uma associação de turismo.

Os Paços do Concelho, que abrigam a Câmara Municipal de Lisboa, ficam na Praça do Município, a oeste da Baixa. Construído em 1867, o prédio foi reformado após um incêndio em 1996, misteriosamente iniciado no departamento de arquivos financeiros. Se você quiser visitá-lo, vá à recepção e se informe sobre as visitas guiadas, que geralmente acontecem duas vezes por mês nas manhãs de domingo. Em 5 de outubro de 1910, a República portuguesa foi proclamada no grande balcão do prédio da Câmara; na praça, acontecem as comemorações anuais do Dia da República. A oeste do distrito do Cais do Sodré, a Rua do Arsenal é especialmente famosa pelo cheiro de bacalhau que emana de suas lojas.

Muitas das ruas da Baixa se tornaram calçadões exclusivos para pedestres, notavelmente a via principal, a Rua Augusta. Na ponta perto do Arco fica o Mercado dos Hippies, com barraquinhas de artesanato. A rua e suas redondezas são repletas de cafés, lojas, lanchonetes, bares e artistas de rua. No horário de almoço, uma multidão vai aos restaurantes baratos da Rua dos Correeiros ou a estabelecimentos não-sinalizados que oferecem refeições completas. A Baixa não tem vida noturna.

Muitas lojas ainda possuem fachadas antigas atraentes, como as das lojas de botões e armarinhos, em art noveau, da Rua da Conceição. Entre os trilhos dos bondes próximos à esquina com a Rua da Prata, um buraco retangular dá acesso às cisternas romanas, geralmente chamadas de ‘banhos’ ou ‘tanques para salgar peixes’ – embora seja mais provável que tenham sido as fundações de um templo ou de um edifício maior. Normalmente elas estão inundadas; são abertas à visitação uma vez por ano, entre setembro e novembro. Os interessados na Lisboa romana devem ir ao Núcleo Arqueológico na Rua dos Correeiros ou ao Museu do Teatro Romano.

O ponto de referência mais alto da área é o Elevador de Santa Justa, do século 19, que ajudou a resolver o problema de subir até o Chiado sem esforço físico. Hoje, várias escadas rolantes da estação Baixa-Chiado do Metrô realizam esta tarefa no subsolo.


A linha de bonde mais pitoresca de Lisboa – a 28 leste, que vai da Baixa à Graça – passa pela Igreja de Santo Antônio, construída no local onde nasceu o santo preferido da cidade, pelo Museu Antoniano e pela Catedral da Sé, do século 12. Os lisboetas chamam o trajeto de ‘Rua do Elétrico da Sé’, já que a rua muda de nome várias vezes.

Ao contrário do vizinho Alfama, esta área foi bastante modificada depois do terremoto de 1755, abrindo espaço para ruas mais amplas e casas elegantes. Na rota do bonde há antiquários caros e fascinantes. Também é interessante o aparentemente inofensivo Instituto de Reinserção Social, que antes era uma prisão salazarista.

O Teatro Romano, o único anfiteatro romano de Portugal, começou a ser edificado no reinado de Augusto e foi reformado no governo de Nero, em 57 d.C. Uma pequena parte dele pode ser vista na Rua de São Mamede. É difícil diferenciar o que é verdade e o que é lenda no local: um vídeo do Museu do Teatro Romano, que possui entradas na Rua de São Mamede e na rota do bonde, mostra a reconstrução praticamente terminada. O teatro foi examinado em 1798 pelo arquiteto da corte, o italiano Francisco Xavier Fabri, mas ele falhou em convencer seus patrões de que o monumento deveria ser preservado. As ruínas foram redescobertas em 1964 e, quando os assentos de pedra foram escavados, a Prefeitura da cidade demoliu um prédio que se encontrava no local.

Se você continuar andando pelas vielas que descem à direita da Sé, você irá deparar com o Campo das Cebolas, uma praça ampla e aberta cheia de lojas de presentes e restaurantes baratos. A atração principal desta área é a fachada da Casa dos Bicos, um edifício do século 16 construído por um rico mercador que queria morar perto do novo palácio real, à margem do rio. Hoje, ele abriga uma repartição da Prefeitura e não está aberto à visitação. A oeste na Rua da Alfândega, vê-se a fachada de pedra da Igreja da Conceição Velha.


Chiado

Durante os séculos 19 e 20, o Chiado, cujo eixo principal é a Rua Garrett, era o centro da vida cultural de Lisboa. A ditadura, não muito fã da elite intelectual do país, oprimiu a área e, em agosto de 1988, muito do que havia restado do Chiado foi atingido por um incêndio, que arruinou as duas únicas lojas de departamento de Lisboa. A reforma ficou a cargo do respeitado arquiteto Álvaro Siza Vieira, mas ela demorou mais tempo do que o necessário. Ainda assim, ele manteve a grandeza do bairro de outrora, com cafés, livrarias, teatros e butiques.

Do Rossio, a subida pela Rua do Carmo e depois pela Rua Garrett é relativamente fácil e leva ao coração do bairro. Depois que a rua passa por baixo do viaduto do Elevador da Santa Justa, butiques modernas começam a dividir espaço com estabelecimentos centenários, que vendem desde primeiras edições de livros a luvas de qualidade. Na Rua Garrett, encontra-se a livraria mais antiga de Portugal, a Livraria Bertrand, fundada em 1773. No Largo do Chiado, o café A Brasileira é um ponto de encontro tradicional – por serem muito caros, a maioria dos clientes não pede os pratos do cardápio. Antes freqüentado pelo poeta Fernando Pessoa, cuja figura de bronze está sentada no terraço (ver Caminhada Um café com Pessoa), hoje o café atende tanto turistas quanto locais.

Próximo ao rio, o Museu do Chiado abriga uma coleção de arte portuguesa dos séculos 19 e 20. Ao lado, encontra-se o Teatro Nacional de São Carlos, construído em 1793 inspirado no projeto do La Scala de Milão. A escada de incêndio de ferro do Teatro Municipal de São Luiz dá vida à fachada traseira do prédio, na Rua Duque de Bragança, próxima ao excelente Café no Chiado.

No outro lado da Rua Garrett localiza-se o Largo do Carmo, uma das praças mais bonitas de Lisboa, situada em frente ao Convento do Carmo e ao lado da antiga sede da Guarda Nacional Republicana. Este foi o cenário de um dos momentos mais memoráveis da Revolução de 1974: o último refúgio do primeiro-ministro Marcello Caetano.

Bica

O Elevador da Bica sobe uma rua íngreme entre o Cais do Sodré e a parte mais baixa do Bairro Alto. A subida começa em um prédio amarelo com a placa ‘Ascensor da Bica’ na Rua de São Paulo. Ele passa por cima de excêntricos bairros antigos, uma área onde restaurantes e bares sofisticados convivem com mercados e tabernas.

A inclinação desta área foi formada quando um deslizamento de terra levou embora grande parte da antiga Bica durante um terremoto em 1598. No topo do bairro, está a Esplanada do Adamastor (também conhecida como miradouro Santa Catarina), cujo quiosque serve bebidas noite adentro. Grupos se juntam para admirar a bela vista para o Tejo ou deitar no gramado debaixo da estátua de Adamastor – o monstro mítico que guardava o Cabo da Boa Esperança em Os Lusíadas de Camões. O edifício grande e rosa ao lado da praça acima do miradouro é a sede da associação de farmacêuticos, que abriga o excelente Museu da Farmácia.

O Palácio Verride, do século 18, no lado leste da praça, abrigará um outro museu, o MUDE (Museu de Design e Moda), onde serão expostas coleções de design e de moda compradas pela administração municipal do editor Francisco Capelo; o local deve ser inaugurado no final de 2008. Muitos desses objetos levaram multidões ao museu Centro Cultural de Belém em 1999, mas a exibição foi encerrada em 2006 para dar lugar à coleção Berardo.

Se você quiser expiar seus pecados, vá à Igreja de Santa Catarina na Calçada do Combro. O prédio original data de 1647, apesar de ter sido reformado após o terremoto de 1755. O mosteiro ao lado é hoje o quartel da Guarda Nacional, com uma interessante biblioteca militar no andar superior, mas a igreja principal ainda funciona e possui obras em ouro que datam do final do século 17, além de um teto que é uma obra-prima da pintura rococó do século 18.


Beira-mar à Oeste

Onde Lisboa descobre que não vai derreter

Lisboa acordou para sua costa. No passado, a beira-mar era o local dos embarcadouros de onde partiam as caravelas. Hoje, é repleta de bares, restaurantes e pessoas se exercitando, principalmente nos limites leste e oeste da cidade.

Cais do Sodré

Imediatamente a oeste da Praça do Comércio, um calçadão ao longo do rio leva às estações de trem, metrô e barco do Cais do Sodré. Grande parte dessa área, entretanto, foi demolida para a construção de um túnel debaixo da praça. A estátua vermelha gigante que se encontra aqui foi erguida para marcar o título de capital cultural européia, que Lisboa recebeu em 1994.

Nos horários de pico, a região é invadida por pessoas voltando para casa (e, no verão, por banhistas indo à praia). É ponto final de muitos ônibus, dos trens da linha Caiscais e da linha verde do metrô. Também é o terminal fluvial para as balsas de Cacilhas.

O Cais do Sodré possui uma zona de prostituição em frente ao rio. Muitas casas noturnas possuem nomes de antigos entrepostos, e prostitutas caminhando pela Praça de São Paulo são um lembrete dos tempos áureos do meretrício.

Os arredores do Cais do Sodré possuem diversos bares sofisticados, entre eles dois pubs irlandeses que se juntaram ao velho British Bar – neste mesmo ponto desde a Segunda Guerra Mundial. Vários restaurantes da área são famosos pelos frutos do mar, como o Porto de Abrigo; também é possível encontrar roupas impermeáveis nas lojas especializadas em barcos. O Mercado da Ribeira, construído em 1882 nas ruínas de um antigo porto (descoberto recentemente), é o mercado da Avenida 24 de Julho; os bares abrem cedo e é o lugar onde os boêmios podem tomar uma xícara de chocolate quente no inverno enquanto esperam pelo primeiro trem da manhã. Um pouco mais tarde, os mercadores descarregam frutas e hortaliças; à tarde, o espaço se transforma com as cores das floriculturas. O esforço para dar mais utilidade ao primeiro andar do mercado resultou na instalação de lojas de artesanato, do restaurante Espaço Ribeiro e do bar RibeirArte, com música ao vivo, além de feiras de livro e de música. Atrás, encontra-se o Museu das Comunicações.

Santos

A vida noturna rola na parte oeste, com discotecas como a excêntrica Kremlin e a ousada Kapital. Durante o dia, a Avenida 24 de Julho é bastante vazia, mas à noite as pessoas ficam na região até o amanhecer. Estabelecimentos de refeição rápida ficam abertos até tarde em Santos, servindo caldo verde e pão com chouriço, que sai quentinho do forno.

O nome do bairro é uma homenagem a três irmãos que se tornaram santos católicos, Veríssimo, Júlia e Máxima, que, de acordo com a tradição, foram martirizados pelos romanos na praia daqui no início do século 4. Agora o único vestígio de areia pode ser encontrado nas Escadinhas da Praia, na entrada de duas casas noturnas.

Santos também abriga mosteiros e conventos em ruínas, palcos de histórias de túneis secretos usados por monges aventureiros em busca de freiras solitárias. O palácio real na Rua de Santos-o-Velho é hoje a embaixada francesa; segundo a lenda, Cristóvão Colombo foi apresentado a sua esposa no local.

A rua que sai a oeste é a Rua das Janelas Verdes, que tem esse nome por causa do antigo Palácio Alvor e que hoje abriga o Museu Nacional de Arte Antiga. O jardim dos fundos funciona como terraço para o café do museu, mas para visitá-lo não é preciso comprar a entrada. O local é um dos pontos preferidos de artistas e escritores estrangeiros, graças às associações literárias da área: Graham Greene e John le Carré estão entre os hóspedes da Pensão York House, enquanto As Janelas Verdes, um charmoso hotel, foi a casa do escritor Eça de Queiroz – dizem que ela inspirou dois de seus romances. Há também um pequeno parque na extremidade oeste do museu, onde você pode ver navios fazendo fila para atracar na doca mais próxima.

Alcântara & Docas

A extremidade mais a oeste da Avenida 24 de Julho encontra o distrito de Alcântara à sombra da Ponte 25 de Abril, com suas torres de 190 metros acima do nível do mar. Com o suporte principal de 1.013 metros, era a ponte suspensa mais longa da Europa quando foi construída, em 1966 – com o nome de Ponte Salazar. Suas quatro pistas eram suficientes para suportar o tráfego, mas, em meados dos anos 1990, já era o maior empecilho ao fluxo do trânsito de Lisboa, com congestionamentos nos horários de pico que duravam horas. Na época em que começaram as obras da nova ponte suspensa – a Ponte Vasco da Gama – com o objetivo de aliviar a pressão sobre a ponte velha, mais de 50 milhões veículos passavam por ela a cada ano. A nova ligação, inaugurada em 1998, não resolveu os congestionamentos e, com o crescimento do número de proprietários de carros e do uso de automóveis, o trânsito em geral não melhorou apesar do acréscimo de uma sexta pista. Em 1999, a linha de trem que fazia parte do projeto original da ponte, mas que nunca havia sido instalada, finalmente foi para o subsolo. A linha liga Entrecampos ao norte de Lisboa, com paradas por Almada e arredores.

Alcântara se transformou nos anos 1990, quando ganhou casas noturnas e restaurantes, como o elegante Alcântara Café, situado em antigos armazéns. Do outro lado da linha e debaixo da ponte, estão as Docas de Santo Amaro, uma marina para iates com cafés ao ar livre (esplanadas) e bares cobertos. A maioria dos restaurantes oferece pratos inspirados na culinária japonesa e, se você odeia barulho e multidões, não se aventure por aqui nas noites de fim-de-semana. A Doca de Alcântara, a leste, é o melhor lugar para atracar se você vive em um barco ou está pensando em fazer uma parada. Há novos cafés e restaurantes, e a Fundação Oriente, que possui uma vasta coleção de arte asiática, inaugurou o esplêndido Museu do Oriente no antigo Armazéns Frigoríficos do Bacalhau. A fachada em baixo-relevo, assinada por Barata Feyo, é um belo exemplo da estética do Estado Novo dos anos 1940, mas houve problemas para retirar o cheiro característico de bacalhau de dentro do lugar.

Também vale a pena visitar a Gare Marítima de Alcântara, projetada por Porfírio Pardal Monteiro e um dos melhores terminais de navios de passageiros do país. Sua extremidade oeste foi tomada por uma casa noturna, mas o hall central – usado para eventos especiais – possui os murais originais do pintor Almada Negreiros. Um deles representa o cotidiano da vida lisboeta, principalmente à beira-mar; o outro retrata a lenda de Dom Fuas Roupinho, um cavaleiro medieval e herói naval que, ao seguir um veado em meio à neblina, teria caído de um abismo caso a Virgem Maria não tivesse aparecido e o avisado do perigo.

Do lado leste do vale de Alcântara, estão as paredes rosadas do Palácio das Necessidades, hoje ocupado pelo Ministério das Relações Exteriores. O parque do local possui uma coleção notável de plantas exóticas, inclusive um dos cactos mais velhos dos jardins europeus. Mais abaixo, perto da estrada norte, estão os prédios coloridos que abrigam os antigos moradores do Casal Veloso, a favela de um morro que ganhou fama com o tráfico de drogas e onde a polícia não podia pisar nos anos 1990. A área foi evacuada em 2001, mas ainda é ponto de encontro de viciados.

No lado oeste do vale fica a Tapada da Ajuda, um antigo terreno de caça real onde caminhadas guiadas são organizadas nos fins-de-semana (21 363 8161). Mais a oeste, encontra-se a Capela de Santo Amaro, do século 16, no topo de uma colina. No fim da rua, no terminal ferroviário, está o Museu da Carris.

Belém

Belém poderia ser chamado de museu: seu ‘acervo’ abrange desde o período manuelino, com a Torre de Belém, passando pelo fascista Padrão dos Descobrimentos do Mosteiro dos Jerónimos, um templo de Deus, até o Centro Cultural de Belém, um templo da cultura. Turistas visitam a área todos dias e, aos domingos, os lisboetas lotam as calçadas ao longo do rio, almoçam nos terraços, saboreiam tortas e visitam exposições de arte.

Esta região havia sido separada da cidade de Lisboa e ganhou o nome Restelo (hoje limitado à área residencial em cima do morro). A parte mais baixa foi chamada de Belém no início do século 16 por Dom Manuel I. Como era um ponto de ancoragem, sua história se mistura à dos descobrimentos ultramarinos. Em 1415, a primeira expedição marítima partiu da praia do Restelo para conquistar Ceuta, no Marrocos. Em março de 1493, Cristóvão Colombo parou aqui em seu caminho para chegar às América, e em 1497, Vasco da Gama partiu com a sua frota para descobrir a rota marítima até a Índia – uma cena recordada no poema épico do século 16 Os Lusíadas, de Luís de Camões. Em 1588, durante o jugo espanhol, Belém foi o local de reunião da Armada Espanhola enviada para combater a Inglaterra.

Você pode entrar em uma viagem pela História começando pela Torre de Belém, uma curiosa e pequena fortaleza erguida entre 1514 e 1520 e um dos símbolos mais famosos de Lisboa. Nas proximidades, quase ao lado da rua, está um monumento em forma de V que homenageia os mortos de Portugal durante as guerras coloniais africanas, que aconteceram nos anos 1960 e culminaram com a Revolução de 1974.

Em 1940, a fim de desviar a atenção da ausência de Portugal na Segunda Guerra Mundial, o regime de Salazar organizou uma exposição chamada Exibição do Mundo Português para comemorar vários aniversários históricos – incluindo os 300 anos da Restauração e a independência de Portugal da Espanha. A praia em Belém foi enfeitada e a grandiosa Praça do Império foi nivelada para ficar em frente ao Mosteiro dos Jerônimos. Entre os vestígios do evento estão as piscinas, o Museu Nacional de Arte Popular (que está sendo transformado no Museu Mar da Língua Portuguesa) e um edifício que abriga uma cervejaria. Outra herança é o monolítico Padrão dos Descobrimentos, que fica na marina.

O Mosteiro dos Jerônimos é um dos lugares mais bonitos e famosos de Portugal, contendo as tumbas de Vasco da Gama e Luís de Camões, ambos enterrados aqui no século 19. A ala mais comprida, em frente à Praça do Império, foi construída no século 19 e hoje abriga o Museu Nacional de Arqueologia, o Museu da Marinha e o Planetário Calouste Gulbenkian. No morro acima do Jerônimos está o Belenenses, o clube de futebol com a melhor vista de Lisboa, e o Museu Nacional de Etnologia.

O moderno complexo de frente para a Praça do Comércio é o Centro Cultural de Belém, ou CCB, edificado para a Presidência portuguesa da União Européia em 1992. Originalmente, ele causou polêmica devido aos altos custos, mas este prédio impressionante conquistou seu lugar como cenário de eventos culturais e em 1999 passou a abrigar o Museu de Design e de Moda – que está sendo transferido para o centro de Lisboa e será substituído pela coleção Berardo de arte moderna. O CCB é um dos lugares preferidos dos turistas, que podem ver exposições itinerantes, ouvir jazz, comprar livros e discos ou simplesmente passear pelo jardim do andar de cima olhando o rio.

Uma parte do antigo distrito residencial de Belém sobrevive em meio à megalomania. As travessas ao longo da Rua de Belém estavam antes perto no rio, que foi transposto para o outro lado da linha de trem. Aqui, a Antiga Confeitaria de Belém serve suas especialidades, os pastéis de Belém, a tortinha recheada de creme com canela e açúcar, desde 1837; o local costumar ficar cheio.

Na ponta oeste do quarteirão, uma viela pequena à direita leva à praça com uma coluna: as cinco faixas do pelourinho estão ali para lembrar os cinco membros da família Távora, aristocratas que foram executados neste local em 1759, condenados pelo Marquês de Pombal por cumplicidade em uma tentativa de assassinato de Dom José I. A Marquesa de Távora foi decapitada, seu marido e seus filhos foram torturados e seus ossos, amassados. Espalhou-se sal na propriedade da família para que nada pudesse crescer ali; hoje, o pelourinho continua em pé, mas os eventos foram esquecidos e ervas daninhas tomam conta das pedras arredondadas.

Virando a esquina, encontra-se um dos jardins botânicos da área. Criado em 1906 como Jardim do Ultramar, o Jardim-Museu Agrícola Tropical (Calçada do Galvão, 21 396 2262) consiste em jardins tropicais com lagoas e plantas exóticas. Um dos prédios guarda a Xiloteca, uma coleção de 15 mil espécies de madeira, cada peça lustrada e encerada para a preservação (apenas visitas agendadas).

Acima da Calçada do Galvão está a Igreja da Memória. Entre a extremidade leste da Rua de Belém e o rio fica a Praça Afonso de Albuquerque, batizada com o nome do feroz comandante do Oceano Índico que estabeleceu o império português de especiarias no início do século 16. O prédio salmão do lado oposto é a residência oficial do presidente de Portugal. O museu (21 361 4660, www.museu.presidencia.pt, fecha 2ª) possui obras curiosas, com caixas de vidro mostrando condecorações oficiais e presentes de chefes de Estado estrangeiros. No entanto, o palácio em si é mais interessante (visita agendada, sáb., 11h-17h), pois contém pinturas de Paula Rego retratando a vida da Virgem Maria: um tema incomum para uma artista conhecida por temas seculares, mas que reflete o nome bíblico da área. No verão, há visitas guiadas aos jardins (jun-meados ago dom., 14h-18h).

A Calçada de Ajuda vai até o Museu dos Coches e ao Jardim Botânico d’Ajuda (21 362 2503, www.jardimbotanicodajuda.com, fecha 4ª), construído no século 18 por encomenda de Don José I, que quis plantas de todo o mundo no jardim. Acima da colina está o Palácio da Ajuda, cujas obras começaram em 1802, mas que ficou inacabado.

Depois da Ajuda, o Parque Florestal de Monsanto foi criado nos anos 1930 durante o mandato de Duarte Pacheco como ministro de Obras Públicas de Salazar. Ocupando quase um oitavo da área de Lisboa, é o ‘pulmão’ da cidade e refresca a região oeste com seus ventos. No mapa, todo esse espaço verde parece atraente, mas há muito tempo é um local notório por abrigar prostitutas e traficantes. Há bolsões de civilização e, recentemente, a Prefeitura está tentando utilizar melhor o Monsanto, com apresentações ao ar livre no verão e com uma variedade de atividades, principalmente para as crianças.


São Bento e arredores

Lar de diplomatas, divas e marionetes

O bairro em frente ao Palácio de São Bento – o antigo mosteiro beneditino que virou a sede do Parlamento português – foi batizado com o nome desse edifício. Provavelmente a melhor visão que se tem do palácio é da estreita Travessa da Arrochela, uma típica rua antiga, de onde é possível avistar o frontão triangular e as colunas. Hoje, é conhecido como Palácio da Assembléia da República.

Na Rua de São Bento, encontra-se a casa de Amália Rodrigues, a maior fadista do século 20. Hoje, ela abriga a Casa-Museu Amália Rodrigues. Na outra direção, a Avenida Carlos I leva até Santos.

No século 16, a área ao redor da Rua do Poço dos Negros a leste da Avenida Dom Carlos I era dominada pelo cheiro de corpos em decomposição – escravos africanos jogados em depósitos ao pé do morro após terem cumprido seu trabalho. Hoje, ela se tornou uma agradável área residencial com várias tascas baratas. Há também uma atmosfera africana, com música ao vivo de Cabo Verde no esplêndido B.leza na Rua da Boavista. Os notívagos famintos se dirigem ao Cachupa para saborear a cozinha cabo-verdiana (Rua do Poço dos Negros, 73, 2º andar).

Entre o Parlamento e o rio, fica um dos bairros mais tradicionais de Lisboa, o Madragoa. Esse bairro respira o fado; antigamente, era a residência da colônia de pescadores africanos, cuja irreverência contrastava com a sisudez das ordens religiosas situadas nas várias casas da região. Desde aquela época, a via férrea e a Avenida 24 de Julho separaram o bairro do rio, ao mesmo tempo em que as ordens religiosas eram abolidas em Portugal, em 1824. O antigo Convento das Bernardas na Rua da Esperança agora abriga o Museu da Marioneta e um bom restaurante, o luso-belga A Travessa.


Norte de Lisboa

Um dos melhores museus de Portugal e lar do time de futebol mais famoso do país

Saldanha & Avenidas Novas

Os prédios comerciais ao longo da nova Avenida da República é onde se concentram os negócios de Lisboa. Mas ainda existem partes da cidade antiga: a Pastelaria Versailles, no começo da Avenida da República, perto da Praça Duque de Saldanha, ainda conserva seu apelo burguês; do outro lado, o Galeto é um ótimo exemplo do estilo dos cafés dos anos 1960; o número 38 é um edifício art nouveau onde ficam o Clube dos Empresários e um restaurante. E a Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves é um monumento ao bom gosto burguês.

No meio da Avenida da República, cincundada pelas arquibancadas de tijolos vermelhos, está a neo-mourisca Praça de Touros (ver Nenhuma morte à tarde), construída em 1892. A avenida continua até o Campo Grande, onde fica situa a Biblioteca Nacional (nº 83, 21 798 2000), o principal arquivo de registros de direitos autorais de Portugal. Para consultar qualquer publicação, leve a carteira de identidade e preencha um formulário com os dados do livro que está procurando. A biblioteca também é palco de exposições.

Ainda no Campo Grande, estão o Museu da Cidade e o Museu Rafael Bordalo Pinheiro; mais à frente da extremidade norte está o Estádio de Alvalade, do Sporting, construído a tempo de sediar partidas do Campeonato Europeu de 2004. Alguns quarteirões a leste, a Avenida de Roma cruza o bairro do Alvalade, uma pequena área residencial. Ao norte do estádio, depois da Segunda Circular, está o Aeroporto da Portela e vestígios das favelas que décadas atrás ocupavam a periferia da cidade.


Leste de Lisboa

Relaxe às margens do rio

Em meados do século 19, o escritor romântico Almeida Garrett descreveu as colinas acima do porto oriental de Lisboa como repletas de jardins e pomares. Era fácil sair da cidade e chegar até os jardins dos distritos de Chelas, Xabregas e Marvila. Na verdade, o vale de Chelas possui uma história que rivaliza com a de Lisboa. Segundo a lenda, Chelas é uma corruptela de ‘Aquiles’ – teria sido aqui que o guerreiro grego se disfarçou de mulher para evitar combater em Tróia. Em vão: Odisseu descobriu o esconderijo, onde hoje fica a linha do metrô entre as estações de Olaias e Bela Vista, e forçou Aquiles a enfrentar seu destino de guerra, glória e morte fora das muralhas de Tróia.

A ferrovia que liga Lisboa a Madri e à cidade do Porto alteraram radicalmente a região. Nos anos 1860, os trens se locomoviam em uma linha paralela ao rio, em meio às novas indústrias e armazéns. Os contrastes podem ser desconcertantes. Ainda há pequenos lotes de fazendas, apesar de várias azinhagas (caminho estreito de pedra) terminarem nos blocos de concreto que compõem as casas da região. De um lado, grandes edifícios residenciais olham por cima do rio, e do outro, encontram-se algumas favelas.

Essa Lisboa ‘esquecida’ fica em frente ao Mar da Palha, uma grande bacia do estuário do Tejo. O lugar pode ter recebido este nome por dois motivos: porque grandes quantidades de palha eram levadas de barco do Alcochete para o Montijo, passando por ali; ou porque suas águas ganham um tom dourado ao pôr-do-sol. O Mar da Palha é o lar das Tágides, as ninfas do rio Tejo que aparecem em Os Lusíadas de Camões. Desde 1998, a ampla estrada ao longo do rio liga a Praça do Comércio ao local da Expo 98 – agora chamado de Parque das Nações – e à estação de trem Gare do Oriente.


Sul do Rio

Um passeio pelo Tejo

Balsas cruzam o Tejo entre Lisboa e os subúrbios de Trafaria, Porto Brandão, Cacilhas, Seixal, Barreiro, Montijo e Alcochete. Esses barcos são como os trens e ônibus em outras metrópoles do mundo: ficam lotados nos horários de pico. Porém, um passeio pelo Tejo em horários menos movimentados é obrigatório; vale, no mínimo, para ver Lisboa de longe. Os barcos aportam em Cacilhas, a cerca de dez minutos de barco do Cais do Sodré (a outra rota, do Terreiro do Paço, perto da Praça do Comércio, está fechada). Este terminal serve Almada, uma cidade em ascensão cuja agenda cultural inclui o festival de teatro mais importante de Portugal. No verão, as multidões que descem em Cacilhas rumam para a rodoviária, de onde saem para a Costa da Caparica.

Perto do cais encontram-se alguns restaurantes de frutos do mar a preços razoáveis. Na margem oeste do rio, no Cais do Ginjal, há uma praia fluvial suja, com dos restaurantes Atira-te ao Rio e Ponto Final, ambos com terraços. No final do belo centro velho de Almada, o Elevador Boca do Vento sobe até o miradouro atrás da Câmara Municipal, de onde se vêem paisagens belíssimas. Mais a oeste, a estátua do Cristo Rei (ver abaixo), de braços abertos, guarda o ancoradouro da Ponte 25 de Abril.

Quem cruza a Ponte Vasco de Gama para a zona leste de Lisboa passa por cima das salinas do Alcochete. Este é o ponto inicial da Reserva Natural do Estuário do Tejo, que domina grande parte da área pantanosa do norte do Mar de Palha e que é um paraíso para os observadores de pássaros. Além de martins-pescadores, garças e outras aves aquáticas, ela possui uma das maiores colônias de flamingos da Europa. Apesar de a Ponte Vasco da Gama ter sido finalizada em 1998, seu impacto real só será sentido no futuro. As margens das planícies estão sendo secretamente reivindicadas por incorporadoras imobiliárias, e ecologistas afirmam que o barulho dos veículos e a poluição causada pelo comércio da região – que tem o maior centro de lojas de ponta de estoque da Europa, próximo ao Alcochete – estão atrapalhando os pássaros.

A oeste, o boom imobiliário ao redor de Montijo, antes uma cidade adormecida, deixou vários prédios apartamento vazios. Se e quando a economia se recuperar da recessão dos últimos anos, a margem esquerda entre as pontes voltará a ser alvo do setor, especialmente se houver a construção de uma terceira ponte. Por ora, a contenção de verbas deixou de lado esse projeto, mas uma ligação por via férrea está sendo considerada.

Escrito por Time Out Viagem editors
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