O tradicional café parisiense é uma espécie em extinção. Há poucos anos, havia um em cada esquina, 10 mil ao todo. Hoje, apenas 1,5 mil deles ainda oferecem aos clientes café forte, vinho barato e conversa animada, do amanhecer até altas horas da noite. Muitos bares em locais de destaque se modernizaram.
Nomes antes delicadamente rabiscados em neon na porta hoje são apresentados em caixa-baixa, acima da placa que anuncia um lounge bar. A mobília é macia, a decoração é moderna e o ambiente é mais receptivo às mulheres. A comida é mais variada que o informal croque-monsieur e abrange do café-da-manhã aos petiscos noturnos. Encontram-se boas cervejas belgas (em garrafa, pelo menos), os vinhos são indicados pela origem e sempre há um CD de música eletrônica ou latina tocando. Por tudo isso, os parisienses pagam um alto preço. Em alguns casos, a modernização foi uma bênção. Os exemplos incluem o Bar Ourcq, o L'Alimentation Général e o L'Ile Enchantée.
Estabelecimentos de caráter mais cosmopolita estão agrupados no centro da vida noturna da cidade, no 11º arrondissement, entre as estações de metrô Parmentier e Ménilmontant, uma região conhecida por sua rua principal, cheia de bares: a Oberkampf. Paralela à rue Oberkampf, a rue Jean-Pierre-Timbaud apresenta uma seleção de bares mais variada e alternativa. Outros endereços incluem o Canal St-Martin no 10º arrondissement, o Marais (e seu desdobramento noroeste, entre as estações de metrô Etienne Marcel e Arts et Métiers) e a região de Abbesses, em Montmartre. Rive Gauche e Montparnasse ostentam o orgulho exagerado de sua herança literária, enquanto a região oeste mantém sua elegância e ostentação.
Apesar das mudanças, o ato de comprar uma bebida permanece o mesmo. O chope (pression) é servido em copos de 250ml como um demi e custa de €2 a €3. É mais barato no balcão que nas mesas, mais barato dentro que no terraço e mais barato antes das 22h, quando a tarif de nuit é obrigatória. Vinho em três cores é onipresente e o café é um forte expresso, a menos que se peça diferente. Estabelecimentos modernos também oferecem um cardápio padronizado de coquetéis.
A sólida brasserie e o nobre bistrô oferecem comida com formalidade comparável à de um restaurante, mas, se for apenas para uma bebida, então paga-se mais pela distinção social do atendimento, de colete e avental. Marca-se o pedido em uma comanda e a gorjeta é opcional – apenas umas moedas no balcão.
L’Alimentation Générale 64 rue Jean-Pierre-Timbaud, 11º (01.43.55.42.50). Mº Parmentier. Aberto 2ª a sáb, 17h/2h. Cc AmEx, MC, V. L’Antenne Bastille 32ter bd de la Bastille, 12º (01.43.43.34.92). Mº Bastille. Aberto 2ª a 6ª, 8h/2h;sáb., 12h/2h; dom., 14h/21h. Fecha ago. Cc MC, V. L’Atmosphère 49 rue Lucien-Sampaix, 10º (01.40.38.09.21). Mº Gare de l'Est ou Jacques Bonsergent. Aberto 2ª a sáb, 9h3/1h45; dom., 9h30/0h. Não aceita cartão. Bar Ourcq 68 quai de la Loire, 19º (01.42.40.12.26/ barourcq.free.fr). Mº Laumière. Aberto 4ª a dom., 15h/0h. Não aceita cartão. Le Cinquante 50 rue de Lancry, 10º (01.42.02.36.83). Mº Jacques Bonsergent. Aberto 17h30/2h. Fecha 2ª em ago. Não aceita cartão. L’Ile Enchantée 65 bd de la Villette, 10º (01.42.01.67.99). Mº Colonel Fabien. Aberto 2ª a 6ª, 8h/2h; sáb. e dom., 17h/2h. Cc MC, V. Le Mange Disque 58 rue de la Fontaine, 11º (01.58.30.87.07/ aumangedisque.free.fr). Mº Goncourt. Aberto 3ª a sáb., 17h/2h. Fecha ago. Não aceita cartão. Au P’tit Garage 63 rue Jean-Pierre-Timbaud, 11º (01.48.07.08.12). Mº Parmentier. Aberto 18h/2h. Cc AmEx, MC, V.
A ‘Mercearia Geral’ é a resposta da rue J-P-Timbaud ao 'Armarinho' da Oberkampf: também é um velho e enorme edifício cheio de bugigangas: armários com porcelana kitsch e pimentões de plástico no balcão. Os arremedos de Miró dizem muito a respeito da decoração – os abajures de esponja de cozinha são inspirados. A cerveja é bem escolhida – Flag, Sagres, Picon e Orval na garrafa – e as especialidades da casa, a €8, trazem obscuras combinações de frutas, temperos e álcool, com manjericão, figos e damascos. As saladas são igualmente imaginativas. Sons profissionais emergem da cabine do DJ, do tamanho de um pequeno terminal de aeroporto – prepare-se para um couvert de €5 para grandes nomes ao vivo. Ah, sim, e para as paredes de banheiro mais escabrosas neste lado da cidade.
O L’Antenne é um pequeno grande bar no cais, perto da ópera da Bastilha. Tem um terraço com vista para a marina Port de l'Arsenal e um interior simples, iluminado e arejado. Seu atrativo não se limita aos pôsteres do ator e cantor Maurice Chevalier. Há também um sanduíche jambon-beurre por menos de €3, e barra de chocolate exposta no balcão como se fosse uma doceria. A comida é de qualidade e barata: o plat du jour a €8,50 e uma formule diária a €11,50. Uma clientela na casa dos 30 anos de idade conversa animadamente, deixando o hedonismo para os mais jovens – que mergulham nos inferninhos da redondeza na rue de la Roquette e rue de Lappe.
O L'Atmosphère está no centro da revitalização do Canal St-Martin e contribui para o movimento na região. Parisienses de todo tipo conversam, lêem e apreciam a paisagem do terraço. Dentro, o ambiente é simples e de bom gosto, a conversa é animada e as bebidas, baratas. Está sempre cheio, mas vale a pena enfrentar a multidão nas manhãs de domingo para ouvir música experimental e internacional.
O melhor dos novos bares de Paris? Há muitos querendo este título. Este é um barzinho de esquina em tom turquesa, que fica em um aterro largo o suficiente para jogos de pétanque (pergunte no bar). Há várias espreguiçadeiras e um parquinho infantil aqui perto. É um ambiente diferente da aglomeração ao longo do estreito Canal St-Martin e fica perto da estação de metrô Jaurès. Dentro, o Ourcq é animado e boêmio, com sofás, papel de parede com estampa de papagaio e uma área elevada mais reservada nos fundos. A bebidas são listadas em ordem crescente de preço, começando com o café (€1), demi ou taça de vinho tinto (€2), Pelforth ou kir (€3) e Mojito (€4). As massas e exposições (€7), e a programação regular de DJs mantêm a clientela satisfeita e entretida.
É um pequeno espaço espirituoso, perto do Canal St- Martin. Tijolos à vista, fórmica e anúncios emoldurados do pós-guerra são a base da decoração, apesar de o ambiente ser uma expressão dos boêmios que freqüentam aqui. Bons preços – jarras de 500mL de Sauvignon, Brouilly e Chablis na faixa de €10, todos também servidos em taças – atraem diversos gostos e gerações a este amplo espaço. As duas salas atrás do bar principal são para refeições (clássicos acessíveis) e apresentações (minimalistas e, em geral, acústicas). Última rodada à 1h20, sem discussão.
O mais recente DJ bar no crescente setor a nordeste de Belleville, o ‘Ilha Encantada’ tem bom gosto comedido em toques chiques e retrô – como uma boba propaganda do Renault Mégane nas mesas do terraço – e também comedido som house/eletrônico para manter o foco nas conversas. Além disso, é um ambiente leve, com altíssimo pé-direito e janelas francesas – que deixam entrar boa parte do horizonte urbano de Belleville – e espaço de sobra entre as mesas e banquetas. A carta de vinhos é formidável, incluindo Kriek em garrafa, e os coquetéis custam €6,50. Uma clientela entusiasmada e um pouco mais velha mantém um zum-zum constante sem a pressão de ter que ser o melhor da cidade. Nas noites de DJ mais movimentadas, um moderno lounge é aberto no piso superior.
Este bar moderno ilustra o que se pode fazer com um pouco de arte, bom gosto musical, a mobília mais comum e as conexões certas. Para lançar um CD, apresentar um DJ ou dar uma festa cuja divulgação é no boca-a-boca, este é o lugar. Há outros fatores, claro. O experiente proprietário, Hubert, trouxe vinhos escolhidos de pequenos produtores no sudoeste da França, mas cobra apenas €2-€3 por taça. O mesmo com as pequenas porções de petisco, por menos de €10. Pilhas de discos de vinil podem ser manuseadas – existe coisa melhor que mexer em discos de vinil? – e, com o constante fluxo de eventos e lançamentos, nenhuma apresentação se repete. Um bom nome para lembrar.
Tão bem-afinado quanto a guitarra Cherry Red 53 de Chuck Berry, este maravilhoso bar de rock é a melhor opção na rue J-P-T. Não significa que os donos encheram o lugar de peças americanas ou garçonetes de patins; o Garage está pronto para o que der e vier, como a oficina mecânica perto daqui. O estofamento dos bancos do bar está saindo, e as cadeiras de segunda mão combinam com as mesas bambas de cores estranhas; uma geladeira velha e um telégrafo ficam no fundo. Enquanto os motociclistas conversam sobre as Andrews Sisters e os mecânicos de mãos sujas pegam a primeira gelada do dia, os conhecedores de música riem e cochicham, dando ao lugar um ar impertinente. O DJ El Toro toca hits dos anos 1970- 80, e há anúncios de eventos semelhantes na cidade. Veja Décimo-primeiro céu.