"Salvador, vai ficar quanto tempo aqui no Rio?". "Para sempre", responde em tom óbvio o portuga, sem amenizar o sotaque. Ele, que roda por todo o salão servindo os pratos e as bebidas, é filho de Nuno Almeida, restaurateur que criou o El Gordo no Bairro Alto, em Lisboa, até que descobriu o Brasil e fez de Trancoso, no litoral baiano, seu novo pouso com restaurante e pousada. Em 2015, a casa-portuguesa-com-certeza chegou ao Leblon, com mais de 90 tapas no menu, especializado em pequenas porções com os sabores grandiosos da terrinha (com preços na mesma proporção) e, claro, ótimas pitadas de especialidades españolas.

A culinária Ibérica vem bem representada com o pa amb tomàquet, um ícone da gastronomia catalã: pão com tomate regado no azeite e jamón pata negra (R$35). As batatas bravas (R$25), cortadas em cubinhos envoltas em molho de pimenta e alho são melhores que muitas servidas na própria Espanha. O Polvo a Galega (R$44), típico da Galícia, que faz fronteira com o norte de Portugal, é macio e salpicado com páprica e alho. Bravo! As azeitonas portuguesas (R$18), morcela da Beira Alta (R$27) e os croquetes de pato com molho de laranja (R$24) são boas pedidas. Não poderia faltar o bolinho de bacalhau (R$22) mas, que, com tantos concorrentes, acaba ficando no lugar-comum. 

Se depois de "tapear", quiser pequenas porções com mais sustância há as costeletinhas de codeiro grelhadas (R$51), crocantes por fora e macias por dentro, entrecosto frito com mel (R$ 29) e Bacalhau à Brás (R$36), entre as carnes. Há várias receitas de arroz: de manteiga e limão (R$ 15), de pato à Vó Alice (R$52) e de cogumelos porcini (R$42. A língua de vitela com molho de mostarda (R$ 38) é uma boa surpresa do cardápio, que traz também  pratos tradicionalíssimos, como a açorda – original da região do Alentejo, cuja base é feita com fatias de pão regadas com caldo temperado com coentro e alho – de tamboril (38), bacalhau (R$49), camarão e lagosta (R$55). 

Unânime nas mesas são os vinhos – são mais de 200 rótulos, 80% de origem lusitana - e as sangrias servidas em jarras de estilo clássico português, com pau de canela imersas no vinho branco, verde, rosé ou tinto (R$78 cada). A decoração destaca as relíquias encontradas na tradicional Feira da Ladra, em Lisboa, parte delas do acervo pessoal dos proprietários. As paredes são cobertas por figuras, pôsteres e recortes de jornais e revistas com referências que vão da política ao esporte, passando pelo cinema, música e religião. Estão lá Vasco da Gama e Luís de Camões, assim como alguns craques e brasões do Benfica, Sporting, Atlético Clube de Portugal e Casa Pia.