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Scarlett Johansson: Entrevista

"Eu odeio perder o controle. E o filme exigiu muito isso de mim" diz a atriz sobre 'Sob a Pele'.

Já atraindo os olhares do público há uma década, desde sua estréia em O Encantador de Cavalos, em 1998, Scarlett Johansson impressiona com seus 29 anos: Ela se espanta com as comidas de graça na sua suíte do hotel Waldorf Astoria, e, se bobear, contará toda alegre uma história sobre ter conhecido David Bowie. Por outro lado, não há dúvidas de que, atuando apenas com a sua voz em Ela e agora com sua atuação em Sob a Pele, uma ficção científica que se passa em Glasgow, na Escócia, na qual ela se despe da forma humana para se transformar em um atraente anjo da morte, Scarlett pode estar entrando em uma nova, corajosa e mais adulta fase da sua carreira. Nós falamos com ela sobre seu humor extraterrestre e sobre seu já perdido anonimato.


Seu diretor, Jonathan Glazer, tem sido apontado como o próximo Kubrick. Estamos exagerando?
Ele é algo diferente, sem dúvidas. Jonathan é – e não estou falando nenhuma besteira – o sonho de qualquer ator. Trabalhar com alguém tão curioso e tão perspicaz foi uma experiência totalmente nova para mim. Eu não acho que o vi falando no celular em momento algum. Eu não diria que ele é super tranquilo, de jeito nenhum, mas há muitos diálogos internos acontecendo nele.

Alguns deles tiveram a ver com você conversar com moradores de Glasgow, caracterizada como alien, para tentar seduzí-los?
[Ela ri] Nós filmamos aquelas cenas já no fim das filmagens. Foi uma ideia que o Jonathan teve umas duas semanas antes: “Eu tive uma ideia ontem à noite.” E eu estava tipo “Para de ficar acordado com essas ideias malditas!” Ele disse “Você vai dirigir por aí e vai paquerar pessoas reais. Acho que vai ser bem legal ver o que a gente consegue.” E eu: “Isso me parece péssimo.” Eu passei dias com medo e tentando convencer todo mundo que isso era uma má ideia e que seria perigoso. Fui até o meu limite. E eu continuava ouvindo o Jonathan falar do banco de trás que eu conseguiria.

Nós podemos ver muitas daquelas filmagens – você conseguiu, e muito bem. Alguém descobriu quem você era, você sabe, a Scarlett Johansson com uma peruca feia?
Nenhuma vez! Nós não poderíamos ter gravado a cena antes, já que eu precisava de muita confiança, senão tudo iria por água abaixo. Eu lembro de um cara que não entrou no carro comigo, mas me deu corda por um bom tempo. Em um certo momento ele disse “Ei, você é atriz?” Lógico que eu tive um pequeno ataque cardíaco, mas tentei não demonstrar e falei que não era, e por que ele me fez aquela pergunta. Aí ele só respondeu “Porque você é maravilhosa!”

E... Temos uma cena!
É, depois disso eu soube que podia fazer com sucesso.

Enquanto isso, se tornar uma alienígena deve ser sido bem difícil.
Eu achei bem desafiador, pois não há como você usar suas próprias experiências para se identificar, já que elas são completamente irrelevantes para a história. Eu tive que me libertar do julgamento, do meu autoconhecimento e das minhas dúvidas. Tudo o que nos faz humanos. Até que a personagem – um “isso” – se transformasse em “ela”, e começasse a se identificar com tudo e se sentisse bombardeada – aí sim eu consegui usar minhas experiências. Antes disso, foi totalmente abstrato.

Ela passou por um verdadeiro intensivão em comportamento masculino.
A minha personagem é uma mulher, mas acho que é mais uma estratégia da espécie. Não tem nada a ver com a dinâmica de poder entre homem e mulher, é mais sobre um alienígena tentando entender como exibir suas penas para chamar a atenção. Como homens que estão por aí, na caçada. Eles aprendem esses truques também.

Alguém que parar e olhar a sua carreira neste ponto, entre Ela e Sob a Pele, pode se perguntar se você está tentando recuperar o seu anonimato.
Quando você perde o seu anonimato, você sempre o quer de volta. Mas você nunca o terá. Lógico que provavelmente eu já esteja exausta: Boa sorte com isso! Eu gostaria que nós tentássemos não expor tanto o processo de filmagem. Sim, você pode filmar alguém tropeçando e colocar na internet [fãs realmente fizeram isso durante as filmagens de Sob a Pele.] Mas a excitação de poder se misturar não veio de eu estar livre. Veio da emoção de ver que estava funcionando.


Escrito por Joshua Rothkopf
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