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Boyhood - Da Infância à Juventude: crítica do filme

Boyhood - Da Infância à Juventude: crítica do filme

Estreia 30 Out 2014

Diretor Richard Linklate

Elenco Patricia Arquette), Ethan Hawke, Marco Perella, Ellar Coltrane

Vendo por um lado, Boyhood - Da Infância à Juventude representa um jeito espetacular de economizar nos salários dos atores: para capturar esse incoerente mas envolvente drama familiar do Texas, o diretor Richard Linklater (Bernie - Quase um Anjo, Antes da Meia-Noite) firmou acordos com vários artistas - incluindo a sua filha de 8 anos, Lorelei - para gravar aos poucos um filme com eles por mais de doze anos. As vozes de adolescente mudam, as cinturas afinam e, em uma virada que ninguém poderia imaginar, o garoto, Ellar Coltrane, que interpreta o filho mais novo de um casal divorciado, se desenvolve em um estudante que parte corações.

Por mais legal que pareça, essa longa engenhoca não garante automaticamente profundidade. Richard, o diretor americano menos pretensioso e mais relaxado de Hollywood, provavelmente diria a mesma coisa. Mas, impressionantemente, é profundidade que ele alcança ao deixar os anos fazerem os seus trabalhos durante as ininterruptas três horas, e mantendo momentos que a maioria dos filmes teria cortado. Boyhood - Da Infância à Juventude parece inédito na sua intimidade; o processo é silenciosamente radical, mas o modesto roteiro é ainda mais. Somos apresentados ao clã em saltos impressionistas. Olivia (Patricia Arquette), uma mãe solteira voltando para a faculdade, prepara seus filhos para uma mudança à cidade de Houston, enquanto o pai bacana Mason (Ethan Hawke) aparece em um carrão nos finais de semana para passeios e jogar boliche.

Você torce pela reconciliação, mas o roteiro tem outros planos, trazendo uma parada de novos namorados para Olivia, sendo o mais notável deles um professor universitário que se torna alcoólatra (Marco Perella). O personagem de Ethan Hawke, enquanto isso, muda sua atitude e o volante, eventualmente se casando com uma doce conservadora de uma família religiosa. Os dois se tornam retratos suaves de compromissos longos, e Richard Linklater os guia até um tipo de sabedoria que os pais só podem desenvolver com o tempo.

Da mesma forma vívida, as crianças experimentam vários tipos musicais (de Britney Spears até Bright Eyes) e pequenos atos de rebeldia, crescendo e se tornando pensadores independentes. Boyhood é o mais sutil filme sobre família? Não, e o classificar assim diminuiria o feito do diretor. É melhor dizer que ele nos incentiva a deixar as expectativas melodramáticas de lado e simplesmente deixar a vida acontecer, uma ambição bastante sofisticada. Em certo ponto, é isso que Richard tem feito com a sua trilogia Antes do Pôr-do-Sol, criada ao longo de dezoito anos. Mas Boyhood - Da Infância à Juventude tem um escopo que é mais meticuloso e épico. Espirituoso e que faz sentir, o filme vai continuar pagando dividendos emocionais por muito, muito tempo. 

Escrito por Joshua Rothkopf
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