Não há como negar que David Fincher seja um dos mais talentosos diretores de Hollywood na atualidade. No começo da carreira tendia a exagerar em malabarismos estéticos, mas vem amadurecendo muito, mostrando que adquiriu a sabedoria do “menos é mais”. Se bem que é bom vê-lo voltando a mostrar o senso de humor esquecido nos tempos de Clube da Luta – o maior dos exemplos do passado exibicionista – em seu novo filme.
Sem a sizudez de Seven – Os Sete Crimes Capitais, Zodíaco e Millenium – Os Homens que não Amavam as Mulheres, no filme estrelado por Ben Aflleck, Fincher sabe dosar com maestria a tensão de um thriller com momentos muito engraçados. Principalmente quando dá às cenas da falsa felicidade do casal de protagonistas um jeitão de livros românticos vagabundos de bancas de jornal ao estilo ‘Sabrina’, ‘Julia’ ou ‘Bianca’.
Aliás, falando em Affleck, ele rouba a cena. Mesmo com uma boa atuação da inglesa Rosamund Pike, a dubiedade sutil que exige o personagem Nick Dunne é dominada pelo ator, que melhorou muito seu nível de atuação depois que passou para o outro lado da câmera e dirigiu dois bons filmes: Atração Perigosa e Argo.
Outro dos grandes acertos do filme – que é baseado em um best-seller escrito por Gillian Flynn – é que o texto foi transportado às telas pelas mãos da própria escritora. Ela soube astutamente adaptar à telona o estilo do livro, onde os pontos de vista de Nick e sua esposa, Ammy Dunne, são totalmente contraditórios.
Garota Exemplar não se destaca pelo suspense, o caminho mais óbvio percorrido por um thriller – pois entrega o que aconteceu com a sumida Amy ainda na metade do filme –, mas sim por escancarar de forma diabolicamente divertida a falsidade que permeia as relações sociais vistas de dentro para fora e fora para dentro de nossa vida privada e pública.