Time Out São Paulo

Cinco botecos para não perder

Conheça autênticos botequins que servem os melhores petiscos da cidade.

Em São Paulo, o boteco ainda é o xodó da vida gastronômica, com a rica história de imigração, a cultura desses pequenos bares é tão variada quanto o DNA paulistano. Por aqui, você vai encontrar desde tascas e izakayas até casas comandadas por brasileiros cujos pais e avós vieram de cantos distantes do país.

Para celebrar isso, o já tradicional Comida di Buteco – festival realizado em 16 cidades brasileiras e no qual juízes e clientes votam no melhor estabelecimento da cidade, levando em conta diversos critérios. Em São Paulo, quem concorre pelo título de melhor tira-gosto da cidade é um grupo de 50 concorrentes, desde pés-sujos com pouco mais do que uma geladeira e uma frigideira, até bares maiores que investem em sofisticação. Mas todos têm uma coisa em comum: São botecos com alma.

O conceito de boteco em São Paulo aos poucos tem perdido seu significado, com bares inaugurados em bairros elitistas como a Vila Madalena e o Itaim. Um boteco de verdade começa pequeno, vendendo cerveja e servindo o bom e velho petisco – que geralmente é uma receita de família.

E para ensinar o leitor a identificar o verdadeiro boteco, selecionamos cinco exemplos, cada um representando uma das diversas culturas imigrantes de São Paulo – em graus diferentes de autenticidade –, desde o alemão Amigo Leal até o descontraído Bar do Luiz Nozoie (japonês apenas no nome e na ascendência dos proprietários), passando pelo mineiro Valadares.

O Comida di Buteco acontece entre os dias 11/4 e 11/5. Para conhecer todos os participantes, divididos por região da cidade, vá ao site comidadibuteco.com.br.

 

Leonardo Ramos/ Divulgação
Delícias alemãs e petiscos de um jeito bem brasileiro no Amigo Leal

Amigo Leal

Inauguração 1967
Origem Alemã
Para comer Eisbein (joelho de porco)

Leopoldo Urban, brasileiro de ascendência alemã, abriu esse boteco, em 1967, e ficou por lá por apenas um ano. Depois, fundou e emprestou seu nome ao hoje notório Bar Léo (R. Aurora, 100, S. Ifigênia, 3221-0247. barleo.com.br). Mas a decoração original, com inspiração alemã, pé-direito alto e painéis de madeira dando um autêntico ar do Rio Reno ao lugar, continua igual.

Atualmente, Leonardo Ramos (que na verdade é descendente de portugueses) é quem mantém o espírito germânico vivo. O destaque do menu é para o Eisbein (joelho de porco). “Cada peça pesa quase um quilo e são cozidas por quatro horas”, conta. O resultado é um pedaço tenro de carne, servido com batatas cozidas e sauerkraut (chucrute, que é repolho picado e marinado). Para beber, Steinhäger (gim alemão com aroma de zimbro).

R. Amaral Gurgel, 165, República, 3223-6873. amigoleal.com.br

Bar do Luiz Nozoie

Inauguração 1962
Origem Japonesa
Para comer Frutos do mar

Primeiro, o negócio era venda de sorvete, mas, ao longo do tempo, Luiz Nozoie e sua mulher, Shizue, diversificaram. Passaram a comercializar cerveja gelada em tempo recorde, em um tanque de água salgada a -20ºC, e os salgadinhos de praxe. Hoje ainda é um bar familiar. “Não contratamos garçons”, conta a filha Marcia. “As pessoas vêm ao balcão”, diz.

Ela agora está no comando na maioria das noites. “Meu irmão é dentista, mas sempre passa aqui depois do trabalho.” O pai está menos ativo no negócio, mas vai ao Porto de Santos para repor o estoque de frutos do mar que depois são servidos fritos, em espetinhos com cebola e vinagrete. Para Marcia, não há ciência por trás do bom petisco. “Buscamos os melhores ingredientes. E fazemos com vontade.”

Av. do Cursino, 1.210, Saúde, 5061-4554. bardoluiznozoie.com.br

Rota do Acarajé

Inaugurado 2002
Origem Bahia
Para comer Acarajé

Para ter um gostinho do Nordeste em São Paulo, a Rota do Acarajé, na Santa Cecília, é uma boa aposta. Apesar de exibir uma bandeira baiana, os proprietários são paulistanos. Luisa Inês Salida e Ricardo Gil Fonseca montaram esse discreto bar e restaurante em 2002 e, desde então, fazem tudo com autenticidade: os feijões, a cachaça e os camarões secos são trazidos de Salvador, e há até um time de baianas genuínas na cozinha, preparando o prato que dá nome à casa.

“Todos os dias, amassamos cerca de 30 quilos de feijão fradinho por cerca de 3 horas. Depois, a água pressurizada tira a casquinha, antes de passarmos o feijão no moedor. Após isso, as baianas preparam a mistura, batendo-a com colheres de pau antes de jogar o acarajé em panelões com óleo de dendê”, conta Luisa Salida.

R. Martim Francisco, 529; S. Cecília, 3668-6222.
 

Divulgação
O Valadares é a segunda casa de muitos mineiros em São Paulo

Valadares

Inauguração 1962
Origem Minas Gerais
Para comer Torresmo

O Valadares é a segunda casa de muitos mineiros em São Paulo, além de ser destino certo para quem tem curiosidade de provar seus petiscos nada convencionais. Receitas como rã touro à milanesa e testículos de boi são os carros-chefes do menu, onde prevalece a comida mineira. “O torresmo é nosso campeão”, afirma Maurício Moraes, sobrinho dos irmãos que abriram o bar, em 1962.

“Eles vieram de Minas a São Paulo para trabalhar e tiveram emprego em outros bares antes de decidir abrir o seu próprio.” Moraes trabalha no Valadares há 22 anos e agora é o gerente – um boteco genuíno em uma esquina tranquila da Lapa, com mesinhas na calçada.

“O menu mudou um pouco ao longo dos anos, mas ainda é praticamente de comidas de Minas.” A melhor forma de experimentar o torresmo é pedindo a porção Tradição do Valadares, composta de meia porção de torresminho e meia de batata na serragem (com farinha, alho e pimenta). O menu de bebidas é tão extenso quanto o de porções. As batidas estão entre as mais pedidas.

R. Faustolo, 463, Lapa, 3862-6167. barvaladares.com.br

Elídio Bar

Inauguração 1959
Origem Itália
Para comer Bufê de petiscos

Resenhas sobre o estabelecimento publicadas em jornais e revistas na moldura, recordações e objetos ligados ao futebol cobrem as paredes do Elídio Bar, mapeando os seus 55 anos de vida. “Meu pai torce para o Palmeiras”, diz Celeste Raimundi, a filha do proprietário Elídio Raimundi. “Mas nós temos camisas de todos os grandes clubes, somos democráticos”, garante.

Originalmente, o avô de Elídio abriu um café na vizinhança italiana. Mais tarde, o estabelecimento se tornaria um bar. Com o passar dos anos, um bufê de até 100 tipos de tira-gostos, distribuídos no balcão, ganharam uma reputação notável.

Os antepassados dos Raimundi vieram da região do Veneto, no nordeste da Itália. Celeste conta que o bufê de petiscos é bem típico da região, apesar de não ser composto só de comidas italianas. Mas não há exclusividade italiana nesta mesa. Você vai encontrar desde bolinhos de bacalhau brasileiros a presuntos e chorizo espanhóis, além de queijos como o gorgonzola e o parmesão.

R. Isabel Dias, 57, Mooca, 2021-3097. elidiobar.com.br


Escrito por Catherine Balston e Tom Allsop
Compartilhe

Comentários dos leitores

blog comments powered by Disqus

Outras notícias recomendadas

A Forma da Água: crítica do filme

Os filmes da semana – 16/11/2017

11 anos do JazzNosFundos