“O uísque é como um sol líquido”, definiu bem o dramaturgo irlandês George Bernard Shaw. Muitos brasileiros certamente concordam: o país é o nono mercado de scotch do mundo e, só no ano passado, o consumo aumentou em cerca de 50%. “A bebida foi o primeiro grande destilado global”, diz Dave Broom, autor do Atlas Mundial do Whisky, publicado em português este ano pela Larousse. “Conforme os mercados emergentes foram sendo atraídos pela bebida, as empresas rapidamente a levaram mundo afora.” Uma delas é a Diageo, que hoje vende mais garrafas de Johnnie Walker Red Label no Brasil do que em qualquer outro país.
Em grande número de botecos e bares de São Paulo, você notará o familiar rótulo vermelho o encarando por trás do balcão – fileiras de garrafas, algumas com nomes de clientes escritos em tinta permanente, guardadas cuidadosamente, como parte de uma apreciada tradição paulistana, o ‘clube do uísque’.
Apesar da crescente predileção, definitivamente não se trata de uma opção barata, ainda mais se você quiser ir além das marcas mais conhecidas e buscar opções mais exclusivas e de single malts.
Talvez por isso, eles sejam deixados para o apreço em casa ou depois das refeições. Isso explica por que, muitas vezes, são os restaurantes, e não os bares, que oferecem as melhores seleções. “Beber os single malts já transformam uma ocasião em um evento especial”, diz Broom.
Eduardo Tess Filho, membro da Sociedade Brasileira do Whisky, concorda: há hora e local para beber um bom rótulo – é algo que deve ser saboreado. “Não consigo me imaginar indo a um bar e bebendo single malts a noite toda”, diz. “No calor, você quer beber algo mais refrescante, com gelo.”
Mas isso não significa que não seja possível encontrar uísques interessantes nos bares da cidade. Se você está com vontade de provar algo além do onipresente Red Label, aí vão nossas dicas.
Um dos clichês envolvendo a bebida – clientes saboreando uísque e fumando charutos – ganha vida no Esch Café (Al. Lorena, 1.899, Jd. Paulista, 3062-2285. esch.com.br). A casa tem uma coleção razoável de single malts, e mesmo quem gosta de malte defumado pode se sentir incomodado com a nuvem de fumaça.
Se você acha que um uísque envelhecido desce melhor em um ambiente com decoração de época, o bar Charles Edward (Av. Presidente Juscelino Kubitschek, 1.426, Itaim Bibi, 3078-5022. barcharles.com.br) é o lugar certo. A casa oferece cerca de 40 tipos diferentes e preserva mais de mil garrafas. O lugar encontrou seu nicho como um especialista em uísque, com mobiliário que remete a uma mistura de pub londrino com clube de cavalheiros à moda antiga (é bom avisar: é cobrado couvert, de R$ 26 a R$ 54). Quer um conselho? Chegue cedo. Conforme anoitece, a degustação da ‘água da vida’ pode ser prejudicada pela música em volume alto e pelos bebuns que invadem a pista de dança.
Para degustar seu uísque em um ambiente mais descontraído, vá a um dos pubs da cidade, onde, em meio à seleção de cervejas de praxe, geralmente é possível encontrar uma boa variedade. O All Blacks (R. Oscar Freire, 163, Jd. Paulista, 3088-7990. allblack.com.br) e o bar-boate Kia Ora (R. Doutor Eduardo Souza Aranha, 377, Itaim Bibi, 3846-8300. kiaora.com.br) são boas opções. Já o animado The Blue Pub tem um cardápio particularmente impressionante, que ostenta – o que é pouco comum – quase a mesma quantidade de single malts e de blends. Experimente um dos fantásticos maltes defumados oriundos da Ilha de Islay: Laphroaig, Ardbeg e Caol Ila.
Os single malts não são baratos – a dose de Caol Ila, por exemplo, custa R$ 49. Clientes mais animados, porém, podem economizar comprando a garrafa (o pub vende qualquer uma com 15 doses pelo preço de dez). Ela será etiquetada e guardada atrás do bar, até a sua próxima visita.
Para algo mais requintado, vá ao bar do restaurante do Fasano, onde você pode relaxar no balcão, desfrutando à meia-luz o uísque de sua preferência (certamente pagando caro por isso). A casa tem uma das melhores variedades de single malts de São Paulo. É possível vislumbrar garrafas atrás do bar que sequer constam no menu. Peça ajuda a um dos experientes garçons.
Ainda que as estratégias de marketing tenham, sem dúvida, tornado o paladar dos brasileiros mais sofisticado quando se trata de uísque, e mais inclinado a apreciar opções como as oferecidas no Fasano, Tess acredita que “para a maioria dos paulistanos, o uísque é, em última instância, uma bebida refrescante, para se tomar com gelo, e não apenas algumas gotas, no fundo de um copinho de vidro”. A prática pode pode incomodar os puristas, mas Tess e Broom acreditam que isso é absolutamente perdoável no calor tropical. “Eu acho animador que cada novo mercado comece a desenvolver uma forma de beber uísque”, diz Broom.
Então, não importa se misturado, em coquetéis, com vermute, no Manhattan; servido com Coca-Cola ou água de coco; com gelo ou puro. O uísque é um destilado incrivelmente versátil, bem parecido com a vida em São Paulo.
Estou fazendo a todos os bebedores de uisque a seguinte pergunta: Voces não tem a impressão que os uisques vendidos nos bares e importadoras no Brasil NÃO tem a mesma qualidade dos vendidos lá fora ou nos free shops?
Enviado em Dom 09 Mar 2014 13:51:04
Destes bares, o Charles Edwards não serve single malts, a não ser o Glenlivet 12. O All Blacks e o Kia Ora também não servem single malts. O The Blue Pub ainda erra o nome do whisky no carpádio, de tão amador, e só informa a destilaria como se não tivessem vários whiskys daquele lugar. Mas pelo menos tem um Laphroaig (provavelmente o 10), um Glenmorangie (provavelmente o Original), Dalwhinnie e alguns outros. Não tem o Caol Ila. O Fasano é o único lugar que tem realmente opções de single malts básicas, como Macallan, Balvenie e Laphroaig. O único problema de lá é que uma dose de Macallan 12 que custa R$24 no mercado, lá custa R$80.
Enviado em Qui 16 Ago 2012 18:41:51