Time Out São Paulo

Coma e beba bem nos izakayas

Paulistanos apreciam cada vez mais o programa típico da happy hour do Japão.

Aos poucos, a febre japonesa toma conta de São Paulo. E não estamos falando da (batida) mania de sushi das últimas décadas. Os izakayas – palavra que pode ser livremente traduzida como “sentar-se em um bar de saquê” – são inaugurados por toda a cidade e oferecem oportunidade para degustar bebidas e comidas nipônicas que vão além do sashimi.

Wellington Nemeth/Divulgação
Itigo, sofisticado, mas sem perder de vista a tradição dos izakayas


“É a happy hour nipônica”, diz Ana Toshimi Kanamura, que, ao lado de seu marido, comanda uma das mais novas casas da cidade, o Itigo Sake House (FECHADO EM MAIO DE 2012 Al. Lorena, 871, Jardins, 3062 7875). “No Japão, as pessoas vão aos izakayas para relaxar, beber e petiscar após o trabalho”, explica Ana. “E, embora costumassem ser um território masculino, a cada dia mais mulheres frequentam os locais.”

Caio Estúdio Manus/Divulgação
Cebolas na brasa. Delícia tradicional no Kabura


Durante anos, esses lugares foram um pequeno segredo (mais ou menos) bem guardado na Liberdade. Ana e seu marido, Evandro Aguiar, passaram muito tempo nos balcões de casas como o Kabura (R. Galvão Bueno, 346, Liberdade, 3277-2918) e o Kidoairaku (R. São Joaquim, 394, Liberdade, 3207-8569), antes de estabelecerem o próprio bar.

Aguiar adora quando tem a oportunidade de contar a história do saquê aos clientes, explicando como o polimento dos grãos de arroz determina a qualidade da bebida. O shochu (popular no Japão, feito de cevada destilada, batata doce ou arroz) é outra paixão de Aguiar, que afirma ter a maior variedade da bebida no Brasil.

Para acompanhar, há diversas comidinhas – o yaki onigiri (bolinhos de arroz) é um bom começo (R$ 16,50). Outra opção é o yaki nassu, berinjela grelhada, que derrete na boca (R$ 10).

Em seus três anos de funcionamento, o Izakaya Issa (R. Barão de Iguape, 89, Liberdade, 3208- 8819. izakaya-issa.com) chamou mais atenção da imprensa do que seus vizinhos mais modestos, estabelecidos há 30 anos. Bandeiras vermelhas e uma única lanterna sinalizam a entrada do pequeno estabelecimento. As primeiras coisas que os clientes veem são um longo balcão – presente em todos os izakayas – e pequenas pilhas de sapatos no final de uma fileira de disputadas mesas (ozashiki). Grupos de até quatro pessoas podem ‘pular’ para se sentar.

Comandado por Margarida Haraguchi e sua equipe 100% feminina, o Izakaya Issa logo ganhou fama graças à culinária tradicional. Se conseguir um lugar (recomenda-se chegar cedo ou reservar), a melhor maneira de começar é com o otochi (sequência de quatro pratinhos que mudam todos os dias, R$ 20) e com takoyaki (bolinhos japoneses, R$ 28). Então, estude o menu de saquês. Eles são todos importados e estão longe de serem baratos (R$ 150-R$ 500, a garrafa; R$ 20-R$ 38, o copo). Mas isso não impede que ese lugar fique lotado de uma boa mistura de japoneses e brasileiros, todos em completa sintonia.

A uma quadra do Izakaya Issa, o marido de Margarida, Masanobu Haraguchi (ex-sushiman do restaurante Miyabi), acaba de abrir o próprio negócio: o Ban (R. Thomaz Gonzaga, 20, Liberdade, 11 3341-7749). A iluminação clara, o piso branco e as paredes altas e brancas – quase com um ar de consultório – contrastam com o ambiente aconchegante, todo em madeira. E, ao contrário, da maioria dos izakayas, o Ban abre para o almoço e serve sushi e sashimi. Mas se a opção for mesmo a comida típica desse tipo de casa, não deixe de pedir os sake na sakana (pratos para comer com saquê). Nosso favorito é o aguedashi dofu, tofu frito e pedaços doces de berinjela mergulhados em um leve caldo dashi, cobertos de gengibre ralado e cebolinha (R$ 20).

Para uma experiência mais antiquada, dobre a esquina e vá ao Kabura, que tem um clima mais informal, com horário de funcionamento até mais tarde e clientela jovem. Os irmãos Hitoshi e Satoshi pilotam a grelha há 28 anos, preparando delícias simples, como a anchova grelhada inteira (cerca de R$ 70, dependendo do peso).

Mas, enquanto o Kabura permanece inalterado ano após ano, o chef do Kinoshita, Tsuyoshi Murakami, abrirá um izakaya exclusivo no shopping JK Iguatemi, e Shin Koike, do Aizomê, montará um izakaya no Itaim. Finalmente, esse tipo de bar entrou no século 21 – e saiu da Liberdade.

Escrito por Harry Balston
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