Atualizada em 10/4/2012
São Paulo pode ser amada (e odiada) por inúmeros motivos, é verdade. Mas uma de suas características mais encantadoras a eleva a um seleto roll de cidades no mundo: sua capacidade de revelar-se aos poucos, nos detalhes. Bem ali, onde dois ícones no Centro – Pátio do Colégio e o Solar da Marquesa de Santos – se mostram imponentes e bem explorados pelo turismo local, é necessário mais que um olhar atento para descobrir uma joia rara, já no trecho onde um pequeno comércio vive sua rotina.
O novo espaço Juisi by Licquor, rebatizada Casa Juisi, é do tipo de projeto que a cidade precisa. A dupla ultracriativa formada por Simone Pokropp e Junior Guarnieri, agora também parceira do espaço experimental de arte Phosphorus, enxergou no número 108 da Rua Roberto Simonsen mais que um prédio abandonado para reforma. Seis meses e seis caminhões de entulho depois, reabriu o espaço com uma proposta que não tem outro objetivo senão de ocupar uma área onde a cidade praticamente começou – e fazer do Centro o que nós, paulistanos, tanto sonhamos.
Na parede lateral logo na entrada, a frase “Tudo o que o poder toca, estraga”, feita de cinzas por Felipe Cidade, dá as boas-vindas da construção que data de 1890, sede do primeiro cartório da cidade.
Suba os dois primeiros lances de escadas para chegar até o andar que dá abrigo a um acervo de mais de cinco mil peças de vestuário, separadas em três ambientes: um para roupas de temática oriental e militar, outro para peças em jeans e outro maior com vestuário de vários períodos e épocas. Mas você precisará ser um produtor de moda, de cinema ou de música para poder levar alguma peça, uma vez que elas são destinadas somente para aluguel de profissionais.
A sala onde funciona o brechó destinado ao varejo fica no mesmo andar, além da biblioteca com livros de arte, moda e arquitetura para pesquisa. Peças que chegam do Japão enchem as araras selecionadas por Junior e Simone, o ‘Ju e Si’ que dão nome à casa. Da seleção, é possível garimpar vestidos de Norma Kamali e saias Oscar de la Renta e Burberry a preços entre R$ 290 e R$ 80.
Mais duas salas estão no primeiro andar. A ‘de madeira’ do século 19, em pouco tempo já foi cenário do filme Xingu, de Cao Hamburguer, que acaba de estreiar no Festival de Berlim, e do videoclipe da faixa ‘Freguês da Meia-Noite’, de Criolo (veja abaixo).
Reserve, ao final, um tempo extra para a galeria de Maria Montero, com vocação para dar abrigo a novos artistas e realizar intercâmbios com estrangeiros. E torça para que o projeto de café e jardim em um dos espaços ao ar livre saia do papel em breve.