A coreógrafa alemã Pina Bausch morreu em 2009, com apenas 68 anos, deixou uma companhia de atores e dançarinos leais à sua arte em Wuppertal, na região leste da Alemanha, e legiões de fãs espalhados pelo mundo. Também perdeu a oportunidade de fazer um filme com seu amigo e compatriota Wim Wenders (Asas do Desejo, Buena Vista Social Club). Havia muito tempo que ambos planejavam produzir uma obra juntos. Na verdade, estavam prestes a rodá-la, e em formato 3D, quando Bausch foi diagnosticada com um câncer que a matou cinco dias após sua descoberta. Wenders chegou a abandonar o longa, mas foi convencido pelos dançarinos de Bausch a retomá-lo.
Seu filme é mais focado na obra da Pina, com menos preocupação de falar sobre a vida dela.
Prometi a Pina que não faria isso. Ela não queria chamar a atenção para si mesma. O filme não seria uma biografia e respeitei isso.
Você se rendeu ao 3D por causa do filme do U2. Não acha que a tecnologia, na maioria das vezes, é utilizada de maneira cínica, apenas para inflar a bilheteria, sem uma reflexão mais profunda?
Essa já é uma tendência antiga e concordo com James Cameron: se ele colocou a meta lá em cima, não foi para que todos os outros ficassem abaixo dela. Ele queria que o nível das produções se elevasse, e ninguém tentou fazê-lo. Até agora, o 3D tem sido uma ferramenta de estúdio, usada como atração para maximizar a bilheteria.
Durante anos, você hesitou finalizar Pina, até que veio o 3D. O que o impedia de terminar o filme?
Meu grande medo era desapontá-la. Pina esperava que eu encontrasse um modo diferente de apresentar a dança. Ela me mostrou três gravações anteriores de seu trabalho e tive de confessar que não poderia fazer algo diferente daquilo. Nunca pensei que me faltava uma dimensão. Essa ideia me veio de repente, quando vi o filme do U2.
Gravações de teatro e ópera são populares – mas no seu caso se trata de um retrato muito mais profundo sobre a dança.
Assisti a uma apresentação do Metropolitan de Nova York em um cinema na Alemanha e achei engraçado o fato de muitas pessoas terem ido vestidas a rigor. Em suas mentes, era como se estivessem indo ao Met. Mas o que se exibiu ali foi uma gravação comum. Nunca acreditei que o efeito único e contagiante da performance de Pina poderia ser captado daquela forma. Sentia que minhas câmeras estavam se chocando contra uma parede invisível e então disse a Pina que, quando ia vê-la, acontecia algo que eu não conseguia traduzir, que não sabia como captar.
Como os dançarinos se adaptaram à presença das câmeras no palco?
Eles tinham de olhar para a câmera em alguns pontos, o que, para muitos grandes atores de cinema, costuma ser difícil. Mas isso não fez a menor diferença para esses dançarinos.
A cia. de dança de Pina o inspirou a continuar?
Eu tinha desistido, mas os dançarinos e atores vieram até mim e disseram: “Não sabemos por que você não está filmando, já que Pina gostaria que você o fizesse. Ela achava que dançar era a única arma entre a vida e a morte. Quando ela morreu, dançamos naquela mesma noite, ainda que estivéssemos chorando no palco”. Isso me convenceu. Decidi continuar.