Time Out São Paulo

Eletrônico regional

Mixando elementos brasileiros ao techno, o produtor Psilosamples lança novo álbum e toca no Sónar Barcelona.

O regional e o universal se cruzam na vida e na música do produtor e DJ Psilosamples, como ingredientes de uma receita sonora original que vem conquistando adeptos. Revelação eletrônica brasileira, em suas produções ele mistura samples de cantigas, músicas folclóricas, ritmos regionais e MPB aos beats do techno. É essa mescla que ele apresentou no dia 12 de maio na edição paulistana do festival Sónar, no Anhembi. Mas, além de tocar na edição paulistana do festival, Psilosamples também se apresenta no Sónar de Barcelona, no dia 15 de junho.  

Pode-se dizer que até o nome brasileiríssimo ganhou uma pitada global: José Roberto Machado foi apelidado de Zé Rolê e se transformou em Psilosamples atrás das picapes. Nascido e criado em Pouso Alegre, no Estado de Minas Gerais – onde ainda mora –, o rapaz de 26 anos chamou a atenção dos organizadores do Sónar e acabou realizando um sonho. “Quando o Chico Dub [DJ e produtor] me falou da oportunidade de tocar no festival, eu quase caí da cadeira!”, lembra o mineiro que diz acompanhar a história do Sónar desde os seus primórdios, sempre antenado com as novidades. Depois de confirmada a sua participação na versão paulistana, Zé foi contatado via e-mail pelos responsáveis pela curadoria da nave-mãe, a edição barcelonense. Uma aproximação que ele considerou surreal.

“Em São Paulo, com certeza eu vou conferir o show do Alva Noto & Ryuichi Sakamoto, que é uma coisa mais cabeça, e o do Squarepusher”, recomenda, “eu sou superfã dele, sabe? De acompanhar a vida do cara e tal, não perco por nada o set. Quer dizer, se ele não tocar na mesma hora que eu.”

Fora as duas atrações que considera essenciais, ambas no dia 12, Zé indica suas apostas no cenário eletrônico nacional, como o Mundo Tigre, projeto solo do músico Maurício Takara, baterista da Hurtmold, e o DJ Pazes – que também se apresenta no festival. Apesar de ser um especialista em eletrônica hoje em dia, nem sempre ela deu o tom ao seu trabalho. Antes de misturar brasilidades a batidas do techno, com influência da vida bucólica no campo, ele já foi DJ de hip hop. “O Psilosamples foi uma coisa muito natural, uma evolução. A música brasileira tem um acervo muito poderoso, então as coisas começam a se misturar.”

Essa onda de juntar o tradicional ao moderno, assim como a própria música eletrônica do Brasil, está se expandindo “como um caminhão de abóbora em direção a um muro sem freio”, muito graças às ferramentas de divulgação online. O próprio Psilosamples costuma ter contato com outros produtores pelo Soundcloud, uma rede social para compartilhar sons e mixagens.

É claro que a tecnologia também é uma presença constante em seu processo criativo. “Eu não sou um colecionador de discos ou coisa assim. Crio tudo no computador, na minha casa em Pouso Alegre.”

O resultado mais recente desse retiro campestre-cibernético é o álbum Mental Surf, lançado recentemente no Brasil e, curiosamente, no Japão. “Os japoneses vieram atrás do meu trabalho. Achei bacana porque curto muito a cultura e a música japonesa, um exemplo é o [produtor] Rei Harakami. A minha exposição no exterior tem aumentado bastante”, orgulha-se o rapaz, que tocará pela primeira vez no exterior em Barcelona. O registro vem sendo muito bem recebido pela crítica, destacando-se a faixa ‘Ovelha Negra’, que começa com um arrasta-pé e logo sampleia ‘Bicharada’, dos Saltimbancos de Chico Buarque.

Para o futuro, Zé não tem muitos planos e prefere deixar as coisas acontecerem “naturalmente”. Embora viva em uma pacata cidade do sul de Minas Gerais e sofra de ocasionais problemas com o sinal do celular, ele não pretende mudar para São Paulo ou para um grande centro urbano. Pelo menos não por enquanto. “Está muito tranquila a vida. Pouso Alegre não é tão longe de São Paulo, que é como se fosse meu escritório. Mas quem sabe um dia eu mude. Eu amo São Paulo.”

Psilosamples Sónar São Paulo. Anhembi, Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana. R$ 230 (um dia), R$ 400 (dois dias). 12/5, 16h. sonarsaopaulo.com.br

Escrito por Anita Porfirio
Compartilhe

Comentários dos leitores

blog comments powered by Disqus

Outras notícias recomendadas

A Forma da Água: crítica do filme

Os filmes da semana – 16/11/2017

11 anos do JazzNosFundos