Em um bairro tão único como a Urca, poucos sabem que ali é também berço e inspiração de muitos artistas nacionais e estrangeiros.
Na rua São Sebastião, consagrada como a primeira rua do Rio de janeiro e cravada na pedra da Urca, está a Casa Benet Domingo. A casa desta familia espanhola traz no seu puro sangue a história de três gerações de artistas.

O patriarca, Pedro Benet Domingo, Pere para os íntimos, nasceu na Catalunha onde se formou na escola de Belas Artes e de Arquitetura e já era membro do círculo artístico Barcelonês , quando teve que fugir da perseguição do ditador Franco. Pouco antes de largarem seu país, Pere e sua "mujer" Conchita, assistiram a um filme de Carmem Miranda - aquelas imagens do Rio marcaram profundamente seu imaginário, não deixando dúvidas na escolha do novo destino.

"Como nada é por acaso" ou então "por ironia do destino" em uma versão mais pragmática, foi justamente ao lado da casa de Carmem Miranda que Benet Domingo se instalou quando chegou ao Rio, em 1952.
Juntando a fome com a vontade de comer, aqui continuou sua carreira de artista e encontrou no Rio o mar de oportunidades que só uma cidade que ainda tem tudo por fazer pode oferecer.
Fez então a cenografia de muitos carnavais de rua, filmes e peças de teatro da época, além do trabalho com pinturas e desenhos em nanquin. Sua produção foi intensa até o ano de sua morte, em 69, deixando um legado enorme de relíquias artísticas da época, que podem ser visitadas no pequeno museu montado carinhosamente na entrada da casa.

Seus dois filhos, Pedro e Pilar, deram vazão à veia artística espanhola, que continuou fluindo através de desenhos, pinturas, gravuras e esculturas produzidas no ateliê da casa. E é ali logo, em cima do ateliê, com a mesma vista bucólica da Baía da Urca, que a família expõe seus trabalhos e recebe exposições de artistas convidados.

Matina, filha de Pilar, segura orgulhosamente o bastão da terceira geração de arte da casa. Também formada em artes pela UFRJ, ela conviveu desde criança neste meio e dali para organizar eventos de arte foi um pulo. Também pudera, além do talento no sangue, seu sorriso e a simpatia atraem sempre um público de artistas igualmente "do bem" na casa.
"Queremos promover aqui um clima acolhedor para o artista expor. Diferentemente das galerias, os eventos aqui são mais intimistas e não têm aquela pressão comercial. Queremos apresentar novos talentos cujos trabalhos tenham verdadeira qualidade artística", conta Matina.
Recentemente a casa está aberta há alguns cursos diferenciados: desenvolvimento da expressão artística, focado para quem quer descobrir seu real potencial artístico.
"Vários materiais são apresentados para a pessoa experimentar e conhecer técnicas diferentes", explica Matina.
Aulas de dança também rolam por aqui e o objetivo é liberar o canal criativo, baseado em fundamentos Jungianos e da arteterapia. Grupos de leitura acontecem todas as terças-feiras, às 20h, com temas que variam de tempos em tempos.
Portanto, se você anda em busca de um cantinho romântico com clima de "anti-urbis" aqui é "o" lugar.
Nas exposições, existe espaço para um "tête a tête" com o artista e nos cursos o ritmo sem relógio e sem buzinas é o mesmo.