Cinco homens batucam um samba em seus tambores. Outras pessoas aparecem e começam a dançar em volta. O ritmo é contagiante – e atrai quem passa pela Rua do Arouche, no Centro da cidade, estranhamente movimentada para uma tarde de sábado. Uma das escolas de samba da cidade está ensaiando para o Carnaval, mas não se trata de uma escola comum. A Monalisa Paulistana é uma das primeiras escolas voltadas à comunidade LGBT de São Paulo.
Gays e lésbicas sempre tiveram um papel importante no Carnaval brasileiro – como dançarinos, estilistas ou até mesmo carnavalescos, que são os responsáveis pela concepção do desfile. Mas isso não significa que sejam completamente aceitos. "Nas escolas de samba tradicionais, o preconceito contra os gays é muito grande. Já testemunhei atos de agressão nos bastidores – nos banheiros, por exemplo", diz Miguel Tyesco, 37, presidente da Monalisa Paulistana. "Quando uma transexual entra no banheiro masculino, causa um certo desconforto. Se usa o banheiro feminino, os caras não querem que fique perto de suas namoradas, então é outro problema. A comunidade gay carrega o peso do Carnaval nos ombros e não tem o respeito que merece."
É por isso que Tyesco decidiu fundar a Monalisa em outubro de 2008, junto com sua esposa e a vice-presidente da escola, Renata Loureiro. O carnavalesco Alex Griga reafirma a importância de uma escola de samba gay. "O Carnaval é um negócio tipicamente gay, com roupas e coisas extravagantes. Nós temos bom gosto, temos glamur, e somos muito exigentes. Se sempre fizemos isso para eles (a sociedade heterossexual), por que não fazer para nós mesmos?"
Pela inclusão
Apesar de ser direcionada à comunidade LGBT, a Monalisa Paulista recebe todos de braços abertos. Para comprovar seu compromisso com a diversidade, a escola tem cinco dançarinos diferentes à frente da bateria, em vez de uma rainha da bateria: um homem gay, uma mulher lésbica, uma transexual, um homem hétero e uma mulher hétero.
"Os héteros que frequentam nossa escola se sentem muito confortáveis aqui. Eles se juntaram a nós porque quiseram, então nos apoiam bastante", explica Loureiro.
O nome Monalisa Pauistana vem de um trocadilho: mona (que significa mulher na gíria gay) e lisa (quebrada, sem dinheiro). Entre 200 e 500 pessoas vão aos ensaios, dependendo do dia e do tempo. O clima é amistoso e de muita abertura; até rola paquera, mas só até certo ponto. "As pessoas geralmente relacionam o mundo gay com sexo promíscuo. É exatamente o que queremos evitar aqui", diz Tyesco. "Tudo bem namorar, mas não pode virar uma bagunça. Aqui é um ambiente familiar." Assim como em qualquer outra escola de samba, os desfiles da Monalisa têm um enredo diferente a cada ano, alternando entre questões gays e temas relacionados à realidade da cidade. Enquanto a letra de 2010 falava de preconceito, este ano o tema foi poluição sonora.
Gente simples
Com 500 associados, o que é relativamente pouco para os padrões do Carnaval, a escola só cresceu graças ao boca a boca. O Grêmio Arco-Íris, considerado a primeira escola de samba gay da cidade, diz ter 2 mil sócios. Mas a Monalisa sonha alto: spera ter mil integrantes até 2012 e ganhar um espaço no disputado Grupo Especial, cujos desfiles são transmitidos ao vivo pela TV durante o Carnaval.
Mas a escola tem desafios mais urgentes para lidar: as dificuldades financeiras. Por enquanto, ela tem apenas dois patrocinadores: a associação LGBT Casarão Brasil e uma empresa que fabrica vidro antirruído. "O ideal seria termos uma comunidade mais participativa, mais voluntários", acredita Loureiro. "Além disso, ainda há muita resistência para patrocinar projetos sociais LGBT."
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Amilcar Packer / Time Out
Escrito por Time Out São Paulo editors