Time Out São Paulo

Cinco perguntas para Arnaldo Baptista

Exposição de 120 obras plásticas do compositor e multi-instrumentista será aberta no dia 24 de março.

O compositor e multi-instrumentista Arnaldo Baptista mostra a sua faceta de artista plástico a partir do próximo sábado (24/3) na mostra 'Lentes Magnéticas', na Galeria Emma Thomas, que traz um panorama dos últimos 30 anos de sua pintura na Galeria Emma Thomas, em cartaz até o dia 20 de abril. Ele conversou com Fabiana Caso sobre tintas e notas. As cinco perguntas essenciais você lê a seguir. Ou clique aqui para a entrevista completa.

Esta é a sua primeira grande exposição solo e já traz um panorama dos últimos trinta anos de produção plástica. Gostaria que comentasse.

Como músico, eu já tenho o pé na estrada faz algum tempo. Eu já gravei mais de cem canções no total, contei outro dia. Então, paralelamente, com as artes plásticas eu não sou tão conhecido assim pelo público do meio. Nesse sentido, essa exposição individual vai abranger o meu lado total. Coloquei obras desde a primeira fase em que comecei a pintar, a mostra vai abranger toda a minha criatividade: de motores à ficção científica, corpos, beleza e estilos de pintura. Vou tentar fazer uma coisa que seja uma grande angular da minha vida na área de artes plásticas.

A sua obra tem muitos retratos. Qual é a atração por pintar pessoas?

É interessante que na arte plástica às vezes a gente traduz uma coisa que não não está sabendo que tem dentro do coração, né? Eu, por exemplo, me considero um artista plástico não muito bom em rostos, eu nunca fiz curso de rosto. Então, tem todas aquelas questões de formatos ovais, maneiras de perceber a fisionomia, caricaturas... nesse sentido, estou tentando desenvolver a parte que eu acho que é mais falha em mim. Por isso que eu pinto tanto os rostos. Às vezes é isso, é o lado bonito: a gente tenta estudar tanto uma coisa que acaba se revelando uma outra parte que não se esperava.

Você também utiliza muitas colagens.

A Lucinha (Barbosa, sua mulher) acha que eu sou reciclador. Cato tudo de lixo, coloco no quadro e fica bonito. Às vezes é uma parte de um motor, um plástico que cai de uma panela de pressão. (Lucinha intervém e explica que até a faxineira da casa deles já sabe que qualquer coisa que caia, até uma pena de espanador, o Arnaldo vai querer utilizar nos quadros, então ela já coloca tudo em cima da mesa dele.)

Como é o seu processo de fazer essa arte? Você pinta todo dia?

É importante isso. Meu lado de artes plásticas foi meio colocado na gaveta quando eu morava com minha mãe, meu pai... porque eu não tinha tela, tintas, ateliê. Então isso se desenvolveu quando eu comecei a morar com a Lucinha. Passei a ter uma casa e uma vida mais dedicada à arte plástica, com tinta, cavalete, tela, espaço, iluminação adequada... A motivação vai surgindo a partir do momento em que eu me aprimoro, em que vou conhecendo mais de perto o rosto, as roupas, as formas. Faço também naturezas mortas, naturezas zumbi [risos]. Então eu vou levando adiante isso. Isso é importante para mim em outro lado mais pessoal, é parte do meu ser. Desde que sou criança, eu acordo de madrugada. Eu sou assim. Eu me lembro que antigamente eu escutava, ficava ouvindo o relógio bater e era difícil passar o tempo. Mas atualmente eu dedico essas horas todas que eu tenho de madrugada à pintura. Quase toda noite eu acordo às 4h, às vezes 3h, 2h... Agora eu pinto nesse período, essa hora do dia é importantíssima para mim. Antigamente era uma parte obscura, sem dedicação. Agora eu focalizei para esse lado de pintura e está sendo gostoso: eu tenho rendimento da minha vida nesse sentido profundo.

Como é que você divide as artes? De que maneira a música e a plástica se permeiam e se dividem em sua vida?

Interessante essa pergunta que várias pessoas me fazem. E eu fico pastando para tentar encontrar uma resposta que tenha um lado pragmático. É difícil explicar, mas nesse sentido, às vezes alguma música me inspira mais para as artes plásticas que outras. Por exemplo, quando a música é profunda como as do Yes, eu encontro uma inspiração na arte plástica, posso entrar em detalhes. Já quando a música é tipo, digamos, Beatles, isso não acontece tão forte, talvez me inspire de uma maneira romântica. Mas tem música tipo a do West, Bruce and Laing, que é um conjunto que eu adoro, que não me inspira para a pintura. Porque eu fico totalmente dedicado a escutar, e de certa forma, isso embrutece plasticamente. É uma questão de dedicação e, como eu estou começando tarde a arte plástica em relação à música, tenho a sensação de que vou tentar acoplá-las, como por exemplo, com um retrato que tivesse som.

Escrito por Fabiana Caso
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